"Na audiência do Lula não podemos deixar acontecer". Vazamento inédito do The Intercept é divulgado pela Band News FM. Mensagens mostram que procuradores foram trocados após determinação de Sergio Moro. Jornal Nacional repercute
Vinte e quatro horas depois de Sergio ser sabatinado no Senado sobre trocas de mensagens entre ele e os procuradores da Lava Jato, novos diálogos sobre o caso voltaram a ser divulgados. Desta vez, em uma parceria entre o The Intercept Brasil e o jornalista Reinaldo Azevedo, da Band News FM.
Durante seu programa, Azevedo divulgou mensagens trocadas entre os procuradores Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, e Carlos Fernando dos Santos Lima após uma conversa do primeiro com Moro.
As mensagens revelam que os procuradores discutiram uma orientação de Moro após a performance de uma procuradora em audiência (veja a íntegra).
Apenas 17 minutos depois de ter sido aconselhado por mensagem privada no aplicativo Telegram por Moro a dar “conselhos” e “treinamentos” sobre as técnicas de questionamento da procuradora Laura Tessler, cuja performance teria sido considerada insatisfatória pelo ex-juiz, Dallagnol encaminhou o comentário de Moro a Santos Lima.
O coordenador da força-tarefa sugeriu ao colega, então, que fizessem uma “reunião estratégica sobre inquirição” e que olhassem a escala das próximas audiências para que ao menos dois procuradores fossem em cada uma delas. “Na audiência do Lula não podemos deixar acontecer”. Tessler, de fato, não foi à audiência do ex-presidente.
A mensagem em que Moro fala sobre Tessler foi revelada no último dia 9 pelo The Intercept Brasil.
“Prezado, a colega Laura Tessler de vocês é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem”, escreveu Moro a Dallagnol.
Agora, as revelações feitas por Azevedo mostram o que aconteceu depois. Antes de encaminhar a mensagem de Moro a Santos Lima, Dallagnol certificou-se, primeiro, de que o Telegram do procurador não estava aberto em seu computador e que não havia ninguém por perto para ler a mensagem.
“Não comenta com ninguém e me assegura que teu Telegram não está aberto no seu computador e que outras pessoas não estão vendo o que eu falo. Você vai entender pq eu estou dizendo isso”, escreveu Dallagnol.
Na quarta-feira no Senado, perguntado sobre a mensagem em que se refere à procuradora, Moro afirmou que o que escreveu não havia tido nenhuma consequência.
“Eu não me recordo especificamente dessa mensagem, mas o que consta no caso divulgado pelo site é uma referência de que determinado procurador da República não tinha o desempenho muito bom em audiência e para dar uns conselhos para melhorar. Em nenhum momento no texto, há alguma solicitação de substituição daquela pessoa. Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais, até hoje, dentro da operação Lava Jato (…). Se aconteceu, de fato, não tem nada de ilícito. Não estou comandando a força-tarefa da Lava Jato”.
De acordo com Reinaldo Azevedo, as informações reveladas por ele agora são fruto de uma parceria de apuração entre o programa dele — É da coisa — e o The Intercept.
Pouco antes das revelações de Azevedo em seu programa, Greenwald publicou em sua conta no Twitter: “Alguém pode dizer que isso é apenas reportagem da esquerda? Tem pessoas que querem prender o @reinaldoazevedo por revelar este material “ilicitamente obtido”, ou reconhecemos que os jornalistas fazem isso? Decida se Moro disse a verdade ontem. Muito mais vindo de outros parceiros”.
Na próxima quarta-feira, Sergio Moro encara nova sabatina, desta vez na Câmara dos Deputados.
O novo vazamento ganhou repercussão na edição do Jornal Nacional desta quinta-feira (20):
♦ Parte 1
♦ Parte 2
♦ Parte 3
♦ Parte 4
♦ Parte 5
♦ Parte 6
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