Justiça

Procuradores vilipendiaram Marisa para jogar Lula contra a opinião pública

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The Intercept: Em trecho sórdido, procuradores vilipendiaram a imagem de Marisa Letícia para jogar o ex-presidente Lula contra a opinião pública. "Em nenhum lugar do mundo isso é direito", observa jurista

Lula e Marisa (Imagem: Roberto Sutckert Filho)

A ‘Parte 6’ das reportagens do The Intercept sobre os diálogos entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato revela a intenção de um dos acusadores de usar a morte da ex-primeira dama Marisa Letícia para prejudicar a imagem de Lula perante a opinião pública.

Na referida mensagem, Carlos Fernando dos Santos Lima sugeriu que o Ministério Público Federal deveria ir “direto na jugular”, referindo-se à morte de Marisa.

“Eu iria direto na jugular, falando que culpar quem morreu é uma tática velha de defesa”, afirmou Santos Lima. Segundo o procurador, o objetivo era endossar a narrativa de que o ex-presidente Lula atribuiu exclusivamente à esposa o interesse no apartamento do Guarujá (SP), reformado pela OAS.

A princípio, Deltan Dallagnol se esquivou de citar Marisa. O procurador “Welter”, por sua vez, concordou com Santos Lima sobre a referência à ex-esposa de Lula.

Eis alguns trechos do que disse Santos Lima:

Santos Lima – 22:49:39 – Eu iria direto na jugular, falando que culpar quem morreu é uma tática velha de defesa.

Santos Lima – 22:50:07 – E não poderia ser uma nota, pois notas são para momentos de crise.

O procurador havia dito anteriormente que “se fosse para falar” seria do jeito dele, ou seja, expondo a ex-mulher do ex-presidente Lula, que morreu vítima de um AVC.

Nas mensagens, Santos Lima parecia ansioso para falar à imprensa. Ele chegou, inclusive, a solicitar à assessoria do MPF para que conseguisse algum jornalista da Globo para entrevistá-lo. Os procuradores estavam preocupados com a repercussão do depoimento de Lula na mídia.

A assessoria explicou que era mais vantajoso para o MPF aguardar os desdobramentos e monitorar os jornais. No final, Santos Lima acabou abordado por um jornalista no aeroporto e concedeu uma entrevista na qual usou a tática que havia sugerido no grupo — de focar sua argumentação contra Lula na morte de Marisa Letícia.

Por fim, a nota oficial divulgada pelos procuradores, na época, citou Marisa Letícia e foi destacada em diversos veículos de comunicação.

“Isso não é direito”

“Vilipendiar a imagem de Marisa Letícia para jogar o então investigado [Lula] contra a opinião pública não é direito em nenhum lugar do mundo”, afirmou um jurista ouvido pelo Pragmatismo Político.

Irritado com as novas revelações do The Intercept, o procurador Santos Lima se manifestou e disse que não reconhece essas mensagens:

“Showzinho da defesa”

O novo lote de mensagens divulgado pelo The Intercept na noite de ontem deixa claro que a função de coordenador da Operação Lava Jato estava realmente a cargo de Sergio Moro.

O atual ministro do governo Bolsonaro chegou a pedir aos procuradores para que eles divulgassem uma nota à imprensa para rebater o que ele chamou de ‘showzinho’ da defesa do ex-presidente Lula.

Segundo a lei, o juiz não pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes do processo. Os diálogos revelados podem levar à anulação de condenações proferidas por Moro, caso haja entendimento que ele era suspeito.

A maioria dos diálogos do vazamento ocorreu entre Moro e o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima no aplicativo de mensagens Telegram. Nas mensagens, Santos Lima acata ordens do juiz.

Veja o que o The Intercept já revelou até agora:

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6