O Governo brasileiro encontra-se na contramão dos esforços internacionais para manutenção dos pilares da vida - equilíbrio ambiental, social e econômico.
Prof. Dr. Julio Cesar Rosa*
O ser humano envenena a água que bebe, polui o ar que respira e degrada o solo que fornece alimento. Chegamos à semana mundial do Meio Ambiente com a vida no Planeta em crise – desertificações, furacões, alagamentos, extinções, verões escaldantes, queimadas, entre outros graves problemas que resultam em perdas de vidas humanas e redução da biodiversidade que é essencial para própria manutenção da vida.
Urge a necessidade de uma aliança planetária – governos, empresas e cidadãos para defesa dos ecossistemas silvestres e urbanos, portanto, ações urgentes e eficazes para não comprometer ainda mais as gerações futuras – controle da poluição, segurança alimentar, erradicação da pobreza, energia limpa, produção e consumo sustentáveis, estão entre os fatores essenciais.
No Brasil dados do Ministério da Saúde cita que 25% das cidades possuem pesticidas na água de abastecimento urbano – pesquisa realizada entre 2014 e 2017. Testes obrigatórios das empresas de abastecimento detectaram 27 pesticidas, desses 16 são extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão relacionados ao desenvolvimento de câncer, disfunções reprodutivas e hormonais e malformação do feto.
Em média 60% vegetais que possuem partes comestíveis no Brasil necessitam de polinizadores para a reprodução, entre eles, as abelhas, que são responsáveis por aproximadamente 75% da polinização no Planeta. Esse serviço ecossistêmico gerado “gratuitamente” pela natureza é estimado em R$ 43 bilhões anuais. O uso de agrotóxicos, desmatamento, aquecimento global etc. ameaçam diversos serviços ambientais. Observamos que o solo e os recursos hídricos nos últimos anos foram gravemente comprometidos. No Mato Grosso do Sul – Pantanal, Bonito etc. há significativos impactos associados ao avanço do plantio da soja e das mudanças no uso do solo em áreas de Preservação Permanente e recargas dos aquíferos.
Diversas espécies de abelhas estão desaparecendo no Planeta, fato observado nos Estados Unidos e na Europa desde o ano 2000. Em apenas 2 meses (12/2018 e 01/2019) foi verificado a perda de cerca de 5 mil colmeias no Rio Grande do Sul – equivalente a 400 milhões de abelhas. A aplicação inadequada e exagerada de agrotóxicos está relacionada com o extermínio repentino.
Estudo recente realizado por biólogos brasileiros sugere que os danos causados aos insetos pode ser mais grave do que se pensava. Inseticida usado em doses baixas, ou seja, considerado não letal diminui o tempo de vida da abelha em até 50%.
Nos 100 primeiros dias do atual Governo Federal houve certos retrocessos socioambientais – perda do Serviço Florestal Brasileiro e da Agência Nacional da Água, bem como cortes financeiros e enfraquecimento de recursos humanos, inclusive com a exoneração do fiscal que multou o presidente Jair Bolsonaro por pesca ilegal.
O ministro Ricardo Salles mencionou que as 334 unidades de conservação (UC) no País passarão por revisão. Atualmente há 149 unidades de preservação integral e 185 são de uso sustentável – administradas pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Parecer técnico do Ibama autorizou o leilão de campos de petróleo do Parque Nacional Marinho de Abrolhos.
No mês de janeiro, o Ibama aplicou o menor número de multas de desmatamento na Amazônia dos últimos 4 anos. No mês de abril 102 quilômetros quadrados foram desmatados na Amazônica Legal, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), em abril de 2018 apenas 8 quilômetros quadrados foram degradados. Na primeira quinzena de maio de 2019, foram desmatados 6.880 hectares de floresta.
O ministro tem intenção de usar parte dos recursos do Fundo Amazônia para indenização dos donos de terra que possam ser impactados por áreas de preservação ambiental. Pareceres do Governo alemão e do Governo Norueguês que financiam o projeto são contrários às intenções do ministro.
O Governo brasileiro encontra-se na contramão dos esforços internacionais para manutenção dos pilares da vida – equilíbrio ambiental, social e econômico.
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*Julio Cesar Rosa é biólogo, mestre e doutor em saúde pública pela FSP/USP, docente universitário, Consultor Ad Hoc da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) e Sócio Fundador do Instituto de Desenvolvimento e Capacitação em Meio Ambiente – Caminhos na Mata.
Referências bibliográficas
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Carta Capital. Agrotóxicos são detectados na água de 25% das cidades do Brasil. 2019. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/agrotoxicos-sao-detectados-na-agua-de-25-das-cidades-do-brasil/. Acesso em: 27 mai. 2019
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Fundação SOS Mata Atlântica. SOS Mata Atlântica faz análise dos 100 primeiros dias de governo federal para a área socioambiental . 2019. Disponível em: https://www.sosma.org.br/107970/sos-mata-atlantica-faz-analise-dos-100-primeiros-dias-de-governo-federal-para-area-ambiental/. Acesso em: 02 mai. 2019
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Jornal da USP. Morte de meio bilhão de abelhas é consequência de agrotóxicos. 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/morte-de-meio-bilhao-de-abelhas-e-consequencia-de-agrotoxicos/. Acesso em: 29 mai. 2019
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