Mais de uma semana após a revelação do The Intercept, ministro do STF se manifesta pela primeira vez sobre jantar secreto com Sergio Moro e Deltan Dallagnol
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, negou que o jantar promovido para a professora Susan Ackerman, de Yale, em sua casa, tenha sido “secreto”.
Barroso convidou Sergio Moro e Deltan Dallagnol e, segundo mensagens reveladas pelo Intercept Brasil, pediu a eles “máxima discrição”.
Segundo o ministro, o jantar em Brasília, realizado em 2016, foi para 23 convidados. Todos eram palestrantes do mesmo evento que recepcionou exposição da professora de Yale, que é esposa de um ex-professor e amigo de Barroso há 30 anos.
“Era apenas algo privado e reservado aos participantes do seminário”, afirmou Barroso. “Ninguém lá falou de Operação Lava Jato”, disse o ministro à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
As mensagens
Em 3 de agosto de 2016, Moro dirige-se a Dallagnol: “Está confirmado o jantar no Barroso?”. Ao que Dallagnol responde: “Ele acabou de confirmar. Estou adiantando meu voo porque terça estarei na comissão especial. Boa reunião amanhã c eles!!”.
“Obrigado, preciso de endereço e horário do jantar”, diz Moro.
“Não tenho ainda tb…passo assim que ele indicar…”. Mais adiante, Dallagnol diz: “Lembrando que ele é carioca… talvez tenha convidado e não passe o endereço mesmo kkkk”.
Depois, à noite, a conversa é retomada, e Moro e Dallagnol comentam, além do jantar, sobre uma entrevista que Dallagnol deu ao apresentador Jô Soares:
22:26:27 Moro – Como foi no Jô?
22:29:11 Moro – Não recebi o email com endereço
22:43:39 Deltan – Ele quer que Vc vá, e seria bacana Vc ir… só não sei o timing rs. Da vez anterior que fui, eu fui mais no conteúdo. Nessa vez, tentei mesclar conteúdo com entretenimento e acho que o resultado foi bacana….
Mais tarde, naquele mesmo 3 de agosto, Deltan repassa ao então juiz mensagem que havia recebido do próprio ministro Barroso:
“Caros Deltan, Moro, Oscar, Caio Mário e Susan: Tereza e eu teremos o imenso prazer em recebê-los para um pequeno coquetel/jantar em nossa casa, no dia 9 de agosto próximo, 3ª feira, às 20:30, em honra dos participantes do evento “,Democracua, Corrupção e Justiça: Diálogos para um País Melhor”. Será uma reunião em traje casual, com a presença limitada aos organizadores do evento, o que inclui membros da minha assessoria e poucos dirigentes do UniCEUB. Com máxima discrição. Na medida do possível, desejamos manter como um evento reservado e privado. Estamos muito felizes de tê-los aqui. Nosso endereço é [TRECHO OMITIDO POR ESTE ESCRIBA]. Nosso telefone é [TRECHO OMITIDO]. Deltan tem meu telefone e pode ligar em qualquer necessidade. Abraços a todos. Luís Roberto Barroso.”
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Parece que o ministro do Supremo, onde tramita parte dos processos oriundos da Lava Jato, tem consciência de que o jantar/coquetel oferecido por um figurão da terceira instância, com quem acusa e com quem julga em primeira, poderia não cair muito bem se tornado público.
Luiz Fux
Antes de Barroso, o ministro Luiz Fux já havia aparecido nos diálogos entre Moro e Dallagnol. No dia 22 de abril de 2016, em mensagem a Sergio Moro, Dallagnol comemora:
“Caros, conversei com o Fux, mais uma vez, hoje. Reservado, é claro: o ministro Fux disse quase espontaneamente que Teori fez queda de braço com Moro e viu que se queimou. E que o tom da resposta do Moro depois foi ótimo. Disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me para ir à casa dele rs. Mas os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos como instituições. Em especial no novo governo”.
E o então juiz respondeu: “Excelente. In Fux we trust”.
Fachin é outro ministro que aparece nas mensagens. Relembre:
— “Aha, uhu, o Fachin é nosso!!”