Independente do caminho que a elite econômica e política escolha, não será um caminho que auxiliará a independência e soberania do Brasil
Max Marianek*, Pragmatismo Político
Dentro do governo Bolsonaro parece que se formam tendências que representam a luta dos diferentes interesses das duas grandes potências que agora disputam o Brasil. O Brasil é um terreno privilegiado e desejado pelas economias centrais e isso parece se manifestar bem claramente dentro do governo. O que se desenha, em uma primeira vista, de forma explícita é a luta entre o capital norte-americano e chinês, que neste momento protagonizam, uma guerra silenciosa (por enquanto) pelos diferentes pontos estratégicos da economia mundial, inclusive o Brasil.
Anteriormente esta luta não se manifestava de forma tão evidente dentro do país, ela ocorria de uma forma “subterrânea”, porém, com o aumento da tensão entre China e EUA, causada pela atual guerra comercial e pelo constante crescimento do antagonismo entre esses países, está cada vez mais nítida a formação de facções que lutam pelo apoio de cada uma dessas nações.
Permanece dentro da elite política e econômica brasileira, uma dúvida sobre qual economia central, se a norte-americana ou a chinesa, o Brasil deve acompanhar, dentro do embate de escala mundial que se desenha e projeta no mundo todo para um futuro próximo entre essas duas nações. A burguesia brasileira parece ainda hesitar e não saber em qual dos dois países apostar as suas fichas e isso se concretiza em uma luta dentro do governo por qual rumo deve assumir a política externa brasileira.
Há os grupos políticos que se ligam aos interesses do agronegócio e estão intimamente conectados ao processo expansionista chinês, e que por isso defendem uma relação estreita com o governo chinês e temem as declarações mais incisivas do governo brasileiro de apoio aos norte-americanos. Este setor tenta atuar no sentido de arrefecer o ímpeto de Bolsonaro de se alinhar automaticamente aos EUA e de suas declarações, que antes da eleição atacavam os chineses. Há de imediato a preocupação com o impacto de um afastamento da China e o resultado de tal postura nas exportações de Commodities, que repercutem na grande mídia e que são expostas pela mesma, como uma preocupação “racional”.
Aparentemente, porque este é um processo ainda em gestação, e que não alcançou sua plenitude e não sabemos ainda todas as características que ele pode assumir, os chineses tentam reproduzir com o Brasil uma típica relação de centro-periferia, em que o nosso país se transforma em fornecedor de matérias-primas com pouco valor e conhecimento agregado, como soja e ferro, enquanto importa dos chineses máquinas, produtos tecnológicos, industriais e capitais.
Assim, se ligar de forma subordinada aos interesses chineses, como desejam setores dentro do governo e do agronegócio, é reproduzir a conhecida relação entre uma economia de tipo colonial, com outra que assume um caráter imperialista e metropolitano. Este processo relembra, obviamente em contextos históricos completamente distintos, a troca de senhores após a Primeira Guerra Mundial, entre a Inglaterra, que perde a primazia sobre a economia brasileira, e os EUA.
Porém, Bolsonaro parece mais inclinado a reproduzir a nossa velha relação subordinada com os americanos. Ele e setores do seu governo, estão dispostos a perpetuar a relação histórica que possuímos com os senhores norte-americanos e sua preponderância sobre a nossa economia, é o velho desejo colonial que tão bem conhecemos, e desta solução, sabemos o que podemos esperar, apenas mais do mesmo, da velha relação centro-periferia.
No entanto, a ascendência da economia norte-americana sobre o Brasil hoje se vê reduzida, pela ação forte dos chineses no país, tanto por anos de desinteresse estadunidense, quanto por distância que os governos de Lula e Dilma acharam prudente estabelecer dos desejos americanos.
Entretanto, como vemos pela ação de Bolsonaro há um desejo explícito de o Brasil voltar a se relacionar subordinadamente aos americanos, e esse desejo parece ser um misto de ideias tresloucadas de grupos de extrema-direita (apoiada pelas alas Olavistas e figuras como o chanceler Ernesto Araújo), mas também de interesses orgânicos de setores da elite econômica brasileira que tem suas relações estabelecidas tradicionalmente com os estadunidenses.
E há outro aspecto adicional que foi jogado nesta luta: a presença dos europeus, através do tratado de livre-comércio com o Mercosul, que parece tentar recolocar esse canto do globo sobre o velho traje colonial, de forma ainda mais explícita. O que esse tratado representará e como isso irá se manifestar nos interesses econômicos e na luta política, ainda teremos que observar.
Somado à ação desses países, que atuam no sentido de manter o Brasil um fornecedor de commodities, temos a atuação interna do governo Bolsonaro que tenta destruir em ritmo acelerado toda a proteção aos trabalhadores e diminuir ainda mais a atuação do estado brasileiro na economia, reforçando o Modelo Liberal Periférico de nossa economia. Todas essas atitudes caminham no mesmo sentido, de destruir o esboço de projeto autônomo e independente do Brasil que foi construído no século XX e o esboço de estado de bem estar social criado pela constituição de 1988, reforçando a reconversão colonial de nosso país.
Porém, o que podemos perceber é que independente do caminho que a elite econômica e política escolha, apesar de no momento se encontrar desnorteada para qual país irá se ajoelhar, este não será um caminho que auxiliará a independência e soberania do Brasil, mas que recolocará em novos termos o velho papel colonial da nossa economia, algo que tentamos abandonar durante o século XX.
Esse embate dentro das diferentes alas do governo, que representam diferentes interesses , que estão ligados a diferentes países centrais, não apresentará nenhuma resposta efetiva aos reais problemas do povo brasileiro, pois, somente através do desenvolvimento de um projeto nosso, nacional, com presença do estado brasileiro como instrumento de ação que direciona para onde o país deve ir, poderemos pensar em verdadeiras saídas para os problemas que atingem a nação.
Referência:
Gonçalves,Reinaldo. Desenvolvimento as avessas – Verdade, Má-fé e Ilusão no atual Modelo Brasileiro de Desenvolvimento.
*Max Marianek é graduado em História Pela Fundação Santo André (CUFSA) e graduando em Biblioteconomia pela Universidade de São Paulo (USP).
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