Perícia revela detalhes do acidente que matou aluno de geografia da USP. Supervisora admitiu que partiu dela a ordem para que jovem transportasse armário
Uma perícia revelou detalhes da morte de Filipe Varea Leme, estudante de geografia da USP. O jovem de 21 anos foi encontrado sem vida dentro de um elevador da universidade no último dia 30 de abril.
De acordo com o laudo, Filipe foi esmagado pelo armário que transportava em um carrinho. Quando o elevador se movimentou, o armário mexeu-se em direção ao pescoço do jovem, que quebrou. A perícia foi divulgada pelo Instituto de Criminalística.
O laudo do IC atribui a morte à quebra do pescoço do rapaz, análise que vai ao encontro do que informa a certidão de óbito, que menciona “contrição cervical” e “asfixia”.
No momento da tragédia, Filipe dava expediente como monitor de informática na Poli (Escola Politécnica da USP). O jovem ganhava uma bolsa de R$ 530 e dedicava dez horas por semana ao help desk (serviço de apoio a usuários com problemas técnicos) do laboratório da Poli.
Segundo a investigação policial, a supervisora de Filipe admitiu que partiu dela a ordem para que o jovem transportasse o armário, embora a Poli conte com serviço interno de manutenção.
Detalhes da tragédia
Um professor estava mudando seus objetos de sala e precisava de ajuda para transportar um armário de madeira, com divisórias ocupadas por livros e CDs. Foi quando a supervisora dos monitores pediu que eles deixassem suas funções originais e ajudassem no trabalho.
Filipe e outro monitor esvaziaram parte do armário e transportaram seu conteúdo em caixas. Para evitar a escadaria, preferiram utilizar o elevador de deficientes.
Após algumas idas e vindas, havia chegado o momento de carregar o armário, com a última prateleira ainda com livros. Os dois utilizaram um carrinho para transporte de carga.
Os jovens empurraram o carrinho até o pequeno elevador, mas apenas um deles conseguiria entrar com o móvel. Filipe, então, apoiou o carrinho contra o corpo e entrou no elevador de costas (imagem acima).
Sem espaço, ele precisou apoiar a parte de cima do armário, que estava inclinado, com o próprio pescoço. Como Filipe não conseguiu alcançar o botão para fazer descer o elevador, seu colega foi até o térreo, que dá acesso à recepção do prédio, e apertou o botão. Foi quando o acidente aconteceu.
O carrinho entrou completamente no elevador — que não tinha porta própria e era fechado por uma porta de vidro que fica no andar –, mas dois parafusos na parte inferior do armário ficaram do lado de fora.
Quando o elevador iniciou a descida, os parafusos enroscaram no piso e o armário subiu, quebrando o pescoço de Filipe, o que resultou em sua morte, segundo o laudo.
O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou aproximadamente 50 minutos depois do acidente. Encontraram o corpo de Filipe ainda em pé, pressionado pelo armário de madeira.
Prodígio
Em 2008, ainda na sexta série, Filipe ganhou uma medalha de bronze na modalidade teórica nível 2 na segunda edição da Olimpíada Brasileira de Robótica.
Em 2015 foi aprovado no vestibular da USP. No ano seguinte, aos 19 anos, foi um dos escolhidos pela Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo para cursar Gestão de Recursos Naturais e Ambientais.
Em 2017 deu os primeiros passos na carreira acadêmica ao receber uma bolsa para iniciação científica na USP. Seu projeto se chamava “Resistência Camponesa em uma Nova Proposta de Modelo Agrícola”.
Mesmo sendo heterossexual, Filipe ingressou em uma equipe homossexual de vôlei da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP). O jovem dizia que “heterofobia é coisa de complexado”.
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