Sergio Moro está sendo fritado publicamente não só pelo governo Bolsonaro, mas no judiciário e no Congresso. A desgraça do ministro pode ser resumida em uma pergunta: quem confiaria em juiz ladrão? Se ele “se vendeu uma vez”, pode “se vender” outras
A desgraça de Moro no governo Bolsonaro, STF e Congresso era previsível: quem confiaria em uma pessoa que é vista como quem traiu seu compromisso de imparcialidade quando exerceu a magistratura?
Quando agiu assim, na cadeira de juiz, Moro foi útil para aqueles que queriam um atalho para o poder, tirando da disputa a liderança mais popular do país.
Mas, cumprida a tarefa, Moro ficou sem utilidade e se tornou um problema para seus antigos aliados. Estes sabem que Moro fez o que não poderia como juiz.
Se ele torceu o direito e ignorou a falta de provas para condenar Lula, pode fazer qualquer coisa para atingir seus objetivos. Há quem entenda que, à frente da Lava Jato, Moro se comportou como um juiz que vende sentença.
Por esse raciocínio, a nomeação para o Ministério da Justiça foi a recompensa pelos serviços prestados na criação do ambiente para derrubar Dilma Rousseff e na condenação e prisão de Lula, fatores decisivos para a eleição de Bolsonaro.
Frise-se: o problema para Moro é que quem o nomeou sabe o jogo que ele é capaz de jogar. E se traiu o seu compromisso de magistrado, é capaz de qualquer coisa, inclusive de atuar para tirar Bolsonaro da cadeira e sentar-se no lugar.
É uma situação que lembra o que me foi falado por um cartola de futebol, alguns anos atrás. Ele era dirigente da Portuguesa de Desportos, que tinha um jogo decisivo contra a Portuguesa Santista.
Em disputa, uma vaga para a fase seguinte do Campeonato Paulista. A partida terminou empatada em 4 a 4, resultado que levou à classificação da Portuguesa de Desportos.
Muita gente desconfiou que o goleiro da Portuguesa Santista havia tomado muitos gols porque havia se vendido. Na época, foram publicados rumores na imprensa.
Um dirigente envolvido no episódio me confirmou anos depois que o goleiro havia mesmo sido comprado e, como parte do acordo, a Portuguesa o contratou no ano seguinte.
O atleta, porém, nunca entrou em campo. Nem sequer treinava com o grupo. Ninguém confiava nele. Se havia se vendido antes, poderia se vender depois.
Isolado, recebia salário, mas ficava em casa. Pouco tempo depois, deixou o futebol profissional. O mesmo acontece com Moro.
Se, como juiz, ele “se vendeu” (no sentido de que produziu uma sentença sob medida para os propósitos de Bolsonaro), não é minimamente confiável.
Tudo indica que, se pudesse, Bolsonaro demitiria Moro, mas o custo dessa decisão seria alto demais para ele, em razão dos apoiadores comuns no eleitorado.
Para essa massa, Bolsonaro poderia ser visto como traidor ou ingrato, já que todos sabem o papel de Moro no enfrentamento a um adversário comum: Lula.
Sem Moro, Bolsonaro não se elegeria, já que teria de enfrentar o ex-presidente nas urnas. Uma indecência que precisa ser anotada: juiz julgar adversário.
O mais provável, nesse quadro, é que Bolsonaro passe a fritá-lo publicamente. Não o ouviria para áreas afetas à sua pasta, como a nomeação do procurador geral ou de magistrados para as cortes superiores.
Faria de Moro um morto-vivo na Esplanada dos Ministérios. Resta saber até que ponto Moro é capaz de dobrar sua espinha e ser humilhado publicamente.
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