Quando Trump chama os imigrantes de “Aliens”, ou Bolsonaro qualifica nordestinos de “paraíbas”, de forma velada escolhem quem pode ser descartado na empreitada de manter os ganhos dos que não estão dispostos a abrir mão de qualquer centavo
por Anderson Pires*
Na última semana os Estados Unidos viveram uma onda de atentados. Dezenas de pessoas mortas em situações do cotidiano, vítimas de ataques relacionados à xenofobia e ao racismo.
Chama mais atenção o ocorrido no Texas, onde foi atribuído ao atirador um manifesto contra latinos e imigrantes, que estampa todo o ódio que lhe moveu. Não por acaso, muitas das expressões utilizadas pelo atirador, encaixariam perfeitamente num discurso do presidente americano Donald Trump.
Vale ressaltar que o atirador fez questão de frisar que suas ideias eram anteriores a eleição de Trump. Como numa tentativa de protegê-lo de críticas políticas, que certamente seria alvo após o ataque planejado. Se a tentativa era defender politicamente, escolheu a pior maneira. Pois, de uma só vez, evidenciou a convergência de pensamento com o presidente americano e, também, o papel de líder fundamentalista assumido por Trump, a quem os seus fiéis seguidores precisam proteger da ameaça democrata.
Autores de atentados que deixaram dezenas de mortos nos EUA nas últimas semanas são
Na maioria absoluta dos atentados ocorridos nos Estados Unidos o ator era branco, portador de arma obtida legalmente e xenófobo. Um perfil que mostra o lado violento da dominação de classe. Ao contrário da violência vinda dos guetos, construída em ambientes socialmente desfavoráveis, habitados majoritariamente por negros, latinos e árabes, estamos falando de atos violentos oriundos de seguidores das classes dominantes. Pessoas que vivem na franja dos mais abastados e que nutrem o ódio construído pelos seus referenciais de sucesso, ou seja, líderes políticos e empresariais que disseminam o confronto entre vítimas da desigualdade. Propagam que alguém ainda mais pobre pode ocupar o espaço que hoje pertence a figuras com o perfil do atirador: branco e inserido nas classes médias (beirando a baixa).
São figuras como Trump que, de uma tacada só, fomentam o ódio que alimenta politicamente embates eleitorais, constroem condições favoráveis para ampliarem a pobreza além das fronteiras dos seus países e criam um exército patriótico de defensores dos seus negócios. Traduzindo: impõem sanções, taxas e todo tipo de instrumento que torne os pobres mais pobres pelo mundo afora, além de fazerem com que parte das classes médias e baixas se tornem verdadeiros combatentes nessa cruzada protecionista. Alguns chegando ao extremo de produzirem chacinas como as verificadas recentemente. Colocam pobres contra pobres e, assim, garantem que a desigualdade continuará sendo o principal negócio.
Do lado de cá da fronteira, a situação não é diferente. O fundamentalismo que lá se justifica por uma ação de xenofobia, aqui se dá por submissão e alinhamento ideológico. Algo que vem tomando proporções preocupantes, visto que, o maior expoente dessa postura submissa é o presidente Bolsonaro. Não bastasse algumas bandeiras que propaga ao longo de sua trajetória pública, como a defesa da ditadura, apoio à tortura, incitação à violência, preconceito de toda ordem e divisionismo regional, passa por cima de qualquer limite ético e promove um espetáculo de insanidades, a exemplo da indicação do filho para embaixador nos Estados Unidos. Desse modo, sinaliza para Trump que está enviando mais um soldado, pronto para bater continência e obedecer aos interesses americanos (leia-se, aos interesses do capital).
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Entre Trump e Bolsonaro existe um fator de unidade que conduz silenciosamente todos esses episódios: estão a serviço da manutenção dos ganhos cada vez maiores dos grupos empresariais. Em meio as bravatas que propagam, instigam seus seguidores à prática de segregações, chegando ao extremo de atos violentos como vimos nos Estados Unidos. Quando Trump chama os imigrantes de “Aliens”, ou Bolsonaro qualifica nordestinos de “paraíbas”, de forma velada escolhem quem pode ser descartado na empreitada de manter os ganhos dos que não estão dispostos a abrir mão de qualquer centavo.
Pode parecer cruel demais que existam governantes com visão tão relativa sobre a humanidade. Soa como algo paranoico, afirmar que os discursos feitos por esses líderes promovem extermínios. Mas essa é a lógica que se tornou hegemônica no mundo: para os ricos serem cada vez mais ricos é necessário que muitos morram, seja de fome, doenças, guerras ou atentados.
Anderson Pires é jornalista formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), publicitário e cozinheiro.
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