Diante da angústia, o que fazer? Um Brasil por se encontrar
Luís Felipe Machado de Genaro*, Pragmatismo Político
Diante da angústia e desolação, o que fazer? Diante de um dos cenários mais arrasadores desde os anos de chumbo da ditadura civil-militar brasileira, deflagrada pelo Golpe de 1964 e “terminada” numa grande conciliação de classes vinte e um anos depois, inquirimos: o que fazer? Diante da crescente concentração de renda, descaso socioambiental, a elasticidade das leis, chicotadas, berros e preconceitos, num país onde todos temem a todos, me respondam: o que fazer?
Jornalista renomada e de brilhante perspicácia e erudição e um psicanalista progressista de profundidade intelectual admirável nos alertaram recentemente: brasileiras e brasileiros – pobres, desempregados e/ou precarizados – estão adoecendo.
Negros periféricos tornaram-se alvo de uma violência de Estado praticamente legitimada por seu atual (des)governador – política de Estado, convenhamos, que desde os idos coloniais impera. O índice de intolerância aumenta diariamente desde o final de 2018 e início de 2019. Há um temor constante, em todos os lugares. Estamos doentes, tristes e frustrados. Então indago novamente: o que fazer?
Dialogar (ao menos tentar) com o outro; ser empático (ao menos tentar) com o outro; nas escolas públicas, mostrar a realidade social, política e econômica brasileira, passada e atual – nós, professores de História, Geografia, Filosofia, Sociologia e Linguagens, tão demonizados e atacados injustamente, contra-ataquemos: façamos com que alunos (ou ao menos tentemos) leiam bons poemas, (de Oswald a Sérgio Vaz), questionadores e críticos; escutem boas canções, as antigas e as atuais, revendo velhos preconceitos, reinterpretando novas palavras e ideias (desde Chico Buarque de Hollanda e Milton Nascimento a MC. Carol e Pabllo Vittar), para que percebam que tudo muda constantemente – e, se quisermos, para melhor; que assistam bons filmes, os clássicos e os atuais; formemos, todos nós, as novas gerações para um futuro diferente da distopia que nos adoece e mata, principalmente as gentes vulneráveis brasileiras.
Finalmente, ocupemos JUNTOS todos os espaços públicos tomados por lunáticos e inebriados por uma boçalidade aterradora que hoje ‘preside’ a Nação – ocupemos praças e avenidas, em manifestações e protestos (quando possível). Uma coisa é certa: nada muda fora da política. Frisemos: da boa política. Mas, também nada está ou anda fácil. Nada. A angústia, o temor pelo futuro sombrio que se avizinha (ou que já chegou) parece nos engolir por inteiro.
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Será o fim?
Será que conseguiremos recuperar forças para nos reagruparmos, voltar a amar e ter esperança? Será que conseguiremos ocupar os espaços públicos e de poder para, de fato, revolucionarmos as estruturas, redistribuir renda, gerar empregos dignos e formais, dar segurança ao trabalhador, uma habitação confortável, uma escola crítica, questionadora, pública e de qualidade, ruas limpas, arborizadas, segurança pública cidadã, fomento a Educação universitária, terra aos sem-terra, livros e alfabetização crítica aos analfabetos, alegria e saúde aos que estão se adoecendo diariamente?
Darcy Ribeiro sempre nos alertou: não fomos feitos para sermos uma Nação de cidadãos politicamente conscientes, livres e ativos, mas uma grande fazenda senhores e escravos. Nos quesitos democracia e cidadania, Sérgio Buarque também redigiu: aqui, a democracia sempre foi um grande mal entendido. Acredito que o Brasil ainda está por se fazer. Os brasileiros ainda estão por se encontrar – juntamente com seus irmãos latino-americanos.
Tentemos, caras e caros. Tentemos. Ou juntos choraremos o início do fim. Se é que já não estamos nele.
*Luís Felipe Machado de Genaro é historiador, mestre em história pela UFPR e professor da rede municipal de Itararé