A antecipação de 2022
Ninguém mais esconde que a disputa presidencial de 2022 começou. O próprio presidente da República não desceu do palanque – e os adversários, que não são bobos, pegaram o bonde da campanha antecipada.
Jair Bolsonaro (PSL) e Ronaldo Caiado (DEM) em abertura Festa do Peão de Barretos (Imagem: Marcos Corrêa | PR)
Pouco depois de completar sete meses à frente do governo brasileiro, Jair Bolsonaro revelou a intenção de entregar o ‘país melhor’ em 2026. O presidente fazia referência à reeleição em 2022. Mas este não é o indício mais claro de que a disputa havia se iniciado antes do tempo. O fato é que Bolsonaro jamais desceu do palanque. Não se comporta como presidente da República, o vencedor das Eleições de 2018.
Quando reclama a conquista e a condição de mandatário é aos berros. Existem símbolos e meios institucionais – e, sobretudo comportamentais – para Bolsonaro mostrar que de fato é presidente. Não precisa esbravejar para a imprensa ou se comparar ao Johnny Bravo. Não precisa mostrar a caneta Bic todas as vezes em que se contesta uma nomeação. Não precisa usar as atribuições de presidente para destilar ódio contra adversários políticos.
A antecipação de 2022 é a prova perfeita do descontentamento da classe política. E, muito em breve, do povo brasileiro. O governo de Jair Bolsonaro parece envelhecido com apenas oito meses. As declarações do presidente são comparáveis às inconsequências de um adolescente mimado. Nada, entretanto, é tão raso e destemperado quanto os discursos dos filhos do presidente que o auxiliam na tarefa de ridicularizar o país internacionalmente.
A disputa está tão clara que Bolsonaro resolveu atacar os adversários Luciano Huck e João Doria. Ataques estes que somente evidenciam a falta de sensibilidade do presidente. Se mais esperto fosse, ignoraria a presença destes adversários até o momento oportuno – e governaria. A antecipação do embate só mostra que o Brasil não tem um governo e que o presidente está preocupado em vencer mais uma eleição sem sequer terminar o atual mandato.
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Um presidente que se comporta como eterno candidato não governa. Além da disputa de 2022, Bolsonaro só apresenta preocupação pela indicação do filho à embaixada nos Estados Unidos e a alteração de peças na Polícia Federal, Coaf (que agora mudou de nome e se chama Unidade de Inteligência Financeira) e na Receita Federal. E se regozija com a apresentação de miudezas como retirar radares de rodovias, suspender publicação de balanço de empresas em jornais e fazer guerra com autarquias e ONGs.
Bolsonaro rechaça claramente o ministro da Justiça Sérgio Moro por acreditar que ele disputará as eleições de 2022 como candidato a presidente. Significa dizer que dentro do próprio governo já existe uma disputa (ainda que velada) por um pleito distante. Moro entrou no governo como uma âncora e agora parece boiar a cada desautorização do chefe. Todo o motivo é a disputa de 2022.
Em vez de pensar na economia, que rasteja, Jair Bolsonaro lança os olhos para 2022 como se quisesse ampliar o mandato que conquistou sem nem ao menos governar. O presidente da República precisa governar e se esquecer de eleição. Se fizer um bom trabalho, o povo o manterá no poder; se não, sai. Assim é a democracia. O que não pode é o Brasil permanecer em disputa eleitoral constante com 14 milhões de desempregados, economia estagnada e o aumento da desigualdade social (palavra jamais dita pelo presidente).
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do site Nossa Política.