Jovem é espancado por motorista de ônibus por dar "selinho" em outro rapaz
Motorista para o ônibus e manda ator de 23 anos descer após ele dar "selinho" em outro rapaz. O jovem saiu do veículo, mas o agressor não se deu por satisfeito e o atacou fisicamente. Vítima terá de fazer cirurgia
“Estava voltando de um rolê e fui agredido por um motorista de ônibus pelo simples fato de estar com um rapaz.”
O depoimento acima é do ator Marcello Santanna, de 23 anos. Ele foi agredido por um motorista de ônibus na manhã deste sábado (7) na Zona Leste de São Paulo.
O motorista parou o ônibus e mandou o jovem descer depois de flagrá-lo dando “selinhos” em outro rapaz. “A princípio me recusei a descer, disse que tinha pago e perguntei qual seria o motivo. Ele, então, levantou, e na mesma hora resolvi não criar uma discussão e me despedi desse rapaz e da minha prima”, relatou.
“Ao descer, levantei as mãos e disse ‘tá tudo bem, eu vou embora’. Ele já veio nos socos, sem ao menos eu nem ter tempo pra terminar de falar. O rapaz e minha prima desceram pra me socorrer, o motorista entrou na lotação e foi embora”, continuou o jovem.
Logo em seguida passou outro ônibus da mesma linha. O motorista deste segundo ônibus levou Marcelo até a delegacia, onde ele foi orientado a procurar atendimento médico imediato. A prima e o outro rapaz o acompanharam. “Na delegacia, foram muito solícitos, nos levaram até o Hospital Santa Marcelina”, afirmou.
Nas redes sociais, o jovem decidiu expor o caso e publicou um relato. “Se aceitar é um processo difícil. As pessoas nos julgam por andar de mãos dadas, trocar carícias em público ou pelo simples fato de querermos direitos iguais. Por que agredir um ser pelo fato dele amar outra pessoa do mesmo sexo?”, questiona o jovem.
“Já fui ao hospital, farei cirurgia nos próximos dias porque o nariz está quebrado. Já recorri aos meus direitos, e tenho respaldo da lei. Homofobia é crime. Não se omita, denuncie”, desabafou.
Em nota, a SPTrans, que administra o sistema de transporte público de São Paulo, afirmou que “já encaminhou o caso à empresa que opera a linha para que identifique o motorista e tome as providências cabíveis em relação a seu funcionário”.
“Poder moral”
Ao escrever em seu blog sobre a agressão ao ator Marcelo Santanna, o jornalista Fernando Brito critica a materialização do discurso de ódio de figuras públicas e até onde isso pode influenciar atitudes bárbaras no cotidiano comum:
Quanto deste ato estúpido não foi provocado pelos que, como o prefeito Marcello Crivela e o desembargador que liberou a apreensão de livros, fizeram com a sua demagógica insensatez? Se eles transformaram, de olho na aprovação pública, seus preconceitos e recalques contra uma simples história em quadrinhos, onde um homem primário e estressado, dirigindo um ônibus, vai achar a noção de que não tem o “direito” de impor à força os seus “valores”?
Claro que a brutalidade covarde do motorista não pode ser atenuada por isso, mas é preciso ver que impor a intolerância, se tem ares de batalha ideológica nas áreas centrais e ricas das cidades, fora delas vira isso: socos e chutes, em lugar de liminares.
Estamos colhendo amargos subprodutos da estupidez de criar-se um novo tipo de demagogia, a demagogia sexual, à qual apelam vergonhosamente os que querem ganhar os votos do preconceito, da discriminação, da criação de um “inimigo moral”.