Menino Lucas Terra foi estuprado e queimado vivo após um culto na Igreja Universal do Reino de Deus. Por determinação do STF, pastores acusados do crime vão a júri popular
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou nesta terça-feira (17) que os os pastores Joel Miranda e Fernando Aparecido da Silva, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), vão a júri popular pelo assassinato de Lucas Terra. O crime contra o adolescente de 14 anos ocorreu em 2001, em Salvador (BA).
Durante todo esse período, os pastores manobraram na Justiça para permanecerem em liberdade e evitar o julgamento. Os acusados estão soltos e ainda atuam em cargos religiosos na Bahia.
O processo já havia chegado ao STF, mas foi arquivado em 2018 por decisão de Ricardo Lewandowski no painel virtual. Na ocasião, o ministro alegou “falta de provas”.
O Ministério Público Federal (MPF) recorreu da decisão de Lewandowski e, por quatro votos a um, a 2ª turma do STF decidiu que os pastores vão a júri. Só agora todos os recursos do processo foram esgotados.
Votaram a favor do recurso do MPF os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Carmen Lúcia e Celso de Mello. Ricardo Lewandowski foi o único voto divergente. Após a determinação do STF, o promotor Davi Gallo informou que o processo vai para o 2º juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri (BA).
Pai de Lucas Terra
O pai de Lucas, Carlos Terra, morreu em fevereiro deste ano. Ele sofria de cirrose hepática e, segundo a esposa, Marion Terra, o quadro do marido se agravou no final do ano passado, após saber da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, de anular a sentença do TJ-BA que indicava o envolvimento dos pastores no crime.
“Além da doença, ele estava depressivo. Foi um baque para nós saber da anulação do processo. Mesmo assim, ele não desistiu. O tempo inteiro, ele buscava respostas. A gente não entendia porque o processo estava aqui em Salvador e ainda não tinha sido julgado. Ele só pensava nesse processo. Carlos foi vencido pela impunidade, mas eu não vou desistir, eu serei a voz dele nessa luta”, declarou a mãe de Lucas Terra.
O caso
Lucas Vargas Terra foi abusado sexualmente e queimado ainda vivo por pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio Vermelho, na noite de 21 de março de 2001. O garoto de 14 anos havia saído de casa para um culto religioso realizado pelo bispo Silvio Roberto Galiza quando desapareceu.
Os restos de Lucas foram encontrados dentro de um caixote na Avenida Vasco da Gama e ficaram 43 dias no Instituto Médico Legal enquanto aguardavam a realização de exames de DNA. Os exames comprovaram que o jovem sofreu abuso sexual e teve fogo ateado em seu corpo enquanto estava vivo.
O bispo Sílvio Galiza foi o único condenado no caso. Em 2006, durante entrevista ao programa ‘Linha Direta’, da TV Globo, Galiza estava acompanhado de sete advogados e afirmou que o crime ocorreu porque Lucas Terra flagrou os pastores Joel e Fernando fazendo sexo.
Um documentário escrito e dirigido por Cláudio Factum que retrata a simulação do caso Lucas Terra em pouco mais de 30 minutos foi lançado em 2009. Assista:
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook