Caso tratado inicialmente como suicídio tem reviravolta após surgimento de vídeo que mostra advogado, que é atirador esportivo, carregando a namorada ensanguentada no elevador do residencial de luxo onde moravam
A morte de Jamile de Oliveira Correira, de 46 anos, no final do mês de agosto em um bairro nobre de Fortaleza era tratada pela polícia como suicídio. Mas um vídeo registrado pela câmera do elevador do prédio onde a mulher morava provocou uma reviravolta no caso.
Nas imagens, a vítima aparece gravemente ferida sendo retirada do apartamento para dentro do elevador. Ela é carregada pelo filho, um adolescente de 14 anos, e pelo namorado, o advogado Aldemir Pessoa Júnior.
O garoto está sem camisa e descalço, usando apenas uma cueca branca, puxando com dificuldade a mãe desacordada para dentro do elevador. Antes de entrar, ele chega a movimentar os braços dela, e a mulher parece mover a cabeça para trás.
Com a mãe no chão ainda do lado de fora do elevador, o filho se agacha e toca nela, enquanto aperta botões do elevador. Ele parece tentar falar com ela, enquanto a vítima aparentemente move parte do corpo. Segundos depois, o namorado da vítima aparece nas imagens vestindo uma camisa amarela.
Os dois empurram a mulher, que parece se esforçar para movimentar partes do corpo, como os braços, enquanto o garoto continua agachado próximo do rosto dela. Depois a mulher fica imóvel, o advogado se agacha próximo ao rosto dela e o filho põe a mão na cabeça e coloca o rosto contra o espelho do elevador.
Aldemir e o filho da vítima parecem ter uma rápida conversa, e os dois acabam tirando a mulher de dentro do elevador. O vídeo encerra em seguida.
A polícia agora afirma que tudo indica que houve um feminicídio — homicídio que envolve violência doméstica e familiar e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. O envolvimento do adolescente no crime foi descartado e ele é tido como testemunha.
Além do vídeo que mostra a mulher com hematomas no rosto, uma perícia revelou que Jamile de Oliveira foi agredida por Aldemir no estacionamento do prédio antes de subir para o apartamento. O disparo de arma de fogo na região do tórax teria ocorrido após uma série de agressões do namorado contra a empresária.
Cronologia
As investigações da polícia apontam que, no fim noite do último dia 29 de agosto, Jamile foi agredida pelo namorado no estacionamento do prédio onde ela morava. Logo depois, o casal retornou ao apartamento e houve um disparo de arma de fogo que atingiu a empresária.
Jamile foi deixada pelo namorado no Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza, e morreu às 7h do dia 31 de agosto. Apesar da gravidade do caso, o homem não relatou aos familiares sobre o estado de saúde da empresária e também não acionou a polícia.
Ainda de acordo com a investigação, o advogado chegou a retornar ao prédio, limpou o local e permaneceu no apartamento. Enquanto Jamile estava no hospital, Aldemir Pessoa utilizou o celular dela.
Em um primeiro momento, a morte estava sendo investigada como um caso de suicídio. Quando a Polícia Civil tomou conhecimento dos fatos anteriores ao internamento dela, entretanto, o advogado, também atirador esportivo, foi chamado para depor. Aldemir Pessoa disse que ele e o filho de Jamile tentaram evitar o disparo efetuado por ela mesma.
Contudo, o laudo cadavérico da empresária não condiz com o relato e, na última sexta-feira (13), Aldemir foi apontado pelas autoridades como autor do feminicídio.
Tudo por dinheiro
Aos investigadores, uma familiar de Jamile contou que Aldemir vinha ameaçando a empresária e já havia formulado um documento para que a vítima assinasse, repassando a ele todos os seus bens.
“A única coisa que ele queria dela era o dinheiro. Quando o marido de Jamile faleceu, ele deixou um patrimônio alto. Aldemir sabia e arquitetou tudo. Fez confusão e matou ela. Ele tinha uma folha onde dizia para Jamile passar todo o patrimônio dela para ele. Ela disse que ele podia matar ela e ela não passava. Ela dizia para mim que ele era um carrapato, que mandava ele sair do apartamento e ele não saía”, afirmou a familiar, em condição de anonimato.
O advogado de defesa de Aldemir sustenta a versão do suicídio, afirma que não houve assassinato e que ele não tinha interesse no patrimônio da empresária.
Vídeo:
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