Violência

Lacombe tenta defender Witzel e toma ‘chinelada’ de Silvia Poppovic

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Ernesto Lacombe tenta limpar a barra do governador Witzel e de sua política assassina no caso da menina Ágatha e é colocado em seu devido lugar por Silvia Poppovic

Silvia Poppovic e Ernesto Lacombe (reprodução)

Na última segunda-feira (23), o jornalista Luís Ernesto Lacombe, apresentador do programa ‘Aqui na Band’, ao lado de Silvia Poppovic, interrompeu sua colega de bancada enquanto ela criticava a política de segurança pública carioca.

“Terrível essa história, terrível essa política de segurança que não pensa em resguardar a vida da população e sai atirando assim. É isso que acontece. É triste mesmo, é lamentável”, dizia Silvia.

Lacombe rebateu e resolveu começar a atacar o ex-governador Leonel Brizola e defender a atuação da Polícia Militar no Rio de Janeiro.

“Eu acho um pouco precipitado dizer o que aconteceu. Ainda será feito uma perícia. Eu vejo as pessoas se voltando contra o trabalho da polícia. Eu lembro que, nos anos 80, Leonel Brizola, então governador do Rio, proibiu a polícia de subir nas comunidades”, assinalou o apresentador.

“A polícia tem que tomar todo o cuidado para atuar na vida de inocentes, mas a polícia não pode deixar de atuar nessas áreas. Os traficantes estão nessas comunidades exatamente porque ali eles estão protegidos por pessoas inocentes. Então é muito complicado acusar sempre a polícia”, acrescentou Lacombe.

Diante da provocação, Poppovic voltou a se manifestar. “Como não sabe [quem matou a menina]? Eu não estou acusando a polícia, estou acusando a política de segurança pública que autoriza a polícia a atirar ‘na cabecinha’, como diz o governador. Porque há uma política agressiva por parte do governo, de sair matando quem tiver no caminho”, disse.

“Essa história, para quem é carioca, e eu me admiro você não estar tão emocionado, para quem é carioca, para quem é brasileiro é uma vergonha”, encerrou a jornalista.

Política de Witzel matou Ágatha

Especialistas em segurança pública afirmam que a política do governador Wilson Witzel é responsável pela morte da menina Ágatha Félix.

“Toda morte provocada por agentes do Estado se trata, sim, de um tema da política. O assassinato [de Ághata] é efeito de uma política de morte que o estado do Rio está implementando”, afirma a professora Haydée Caruso, do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança da UnB (Universidade de Brasília). Para a pesquisadora, o caso está longe de ser “isolado”, como afirmou o governador.

“Ele confirma uma lógica de atuação da polícia, que está submetida às diretrizes do governo do estado”, afirma Caruso. “Nesta lógica, o que mais importa é caçar criminosos sem ter o menor critério de como a polícia possa agir, inclusive em áreas de alta concentração populacional. É uma escolha desastrosa, mas ainda uma escolha.”

“O trabalho da política é um serviço público, é natural que [a discussão] se faça sobre o âmbito da política, é uma discussão de toda a sociedade”, afirma Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz. Segundo ele, o discurso do Executivo interfere diretamente na ação policial — e, neste ponto, Witzel merece as críticas que recebe.

“Ele tem escolhido um discurso de guerra, de que policiais têm de ir pra cima e que o os criminosos devem ser abatidos, morrerem com tiro na cabeça. Isso é lido na ponta da linha pelos policiais e tem uma consequência”, argumenta Langeani.

Nos primeiros oito meses de governo Witzel, 1.249 pessoas foram mortas pela polícia no Rio de Janeiro: uma alta de 16% em comparação ao mesmo período de 2018 e o maior patamar desde 1998.

“Claramente, este crescimento no número de inocentes mortos nas favelas do Rio por forças do Estado é resultado de uma opção política”, afirma Flávio de Leão Bastos, professor de direito constitucional da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Uma das principais provas disso é que não há um morto em áreas de milícia. Se fosse ao acaso, teria também nessas áreas, mas não….”

Embora o governador tenha questionado o uso político do caso, os especialistas lembram que segurança pública foi uma das bandeiras eleitorais de Witzel ao se eleger no ano passado e tem sido um de seus principais assuntos também no Executivo.

“Se ele elegeu a ‘segurança pública’ como sua bandeira principal, não pode escolher quando quer tratar e quando não quer tratar do assunto. O próprio Witzel optou por este campo de jogo”, lembra Langeani.

“O próprio Witzel fez isso [uso político] ao descer do helicóptero comemorando. A ação da polícia foi acertada, o erro foi dele”, afirma Bastos, ao se referir ao caso do sequestro do ônibus na Ponte Rio-Niterói no final de agosto. Minutos após a resolução do caso, quando o sequestrador foi baleado, Witzel chegou ao local festejando. A cena foi divulgada por toda a mídia.

“Se ele desce de um helicóptero comemorando e depois faz uma coletiva para ganhar os louros de uma ação que tecnicamente foi correta, é normal que as pessoas critiquem quando não for”, finaliza Langeani.

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