Humoristas se estranham em público após protestos pela morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos. Excludente de ilicitude, previsto no pacote de Sergio Moro, também volta à pauta
A morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos, voltou a despertar alerta na população para a repressão recorrente que é imposta pelas força de segurança pública em comunidades carentes.
O tema da violência no Rio de Janeiro tomou conta das redes sociais neste fim de semana e até alguns humoristas se engalfinharam em público na internet.
Márvio Lúcio, ex-Carioca do Pânico, escreveu que artistas estariam “só de olho na lacração” e fazendo manifestações oportunistas em cima do assassinato da menina.
“Só de olho na lacração, fazendo campanha contra a violência no Rio… Desculpa, mas tem muitos ali que todos sabem que gostam muito da farinha e da erva… Alimentam o mecanismo e querem bancar a paz? Hipócritas! É o poste mijando no cachorro”, escreveu o humorista no final da tarde de sábado (21).
O humorista Fábio Porchat retuitou o comentário do colega de profissão, o criticando: “Vamos discutir a descriminalização então? Vamos discutir política pública? O que você sugere? Guerra as drogas? Não tem funcionado. Não sei se você chegou a ver que mataram uma menina de 8 anos. Mas a culpa é da lacração mesmo”.
Na réplica, ‘Carioca’ pediu respeito à sua opinião e demonstrou irritação. “Pô, Nunca fui na sua TL [timeline], colocar o povo contra você, nunca! Respeito a sua opinião. ‘Tipo peido de vaca e camada de Ozônio’, não fui querer tirar uma lasca… Você precisa se unir mais aos seus colegas da comédia, e não aparecer somente para lacrar”, alfinetou.
O humorista Gregório Duvivier, amigo de Porchat, entrou na discussão e debochou da mensagem inicial postada por Carioca: “Claro! A culpa é da maconha. Pqp. Gênio”, escreveu.
Carioca rebateu e disse que já perdeu um primo policial. “Vou te contar algo. Nessa violência do Rio, perdi meu primo PM [Policial Militar] há 13 anos. Meu pai foi baleado há 8 anos, ja vi um amigo ser assassinado. Fugi de São Gonçalo por traumaaa! Não olho a violência de binóculos do Leblon para o Vidigal”, provocou.
São Gonçalo é um município na região metropolitana do Rio, enquanto o Leblon é um dos bairros nobres da capital fluminense e que fica vizinho ao morro do Vidigal.
Duvivier respondeu: “Meu amigo, sinto muito pelas suas perdas. Mas a maconha não tem porra nenhuma a ver com elas. Você tá sendo manipulado. A culpa é do Estado, a culpa é da proibição que, ela sim, fomenta o tráfico”.
Caso Ágatha Félix
Os policiais militares envolvidos na ação que matou a menina Ágatha Félix, de oito anos, no Complexo do Alemão, devem prestar depoimento nesta segunda-feira (23) na Delegacia de Homicídios da capital, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.
Ágatha morreu na noite de sexta-feira (20). Ela estava dentro de uma kombi com o avô, quando foi baleada nas costas. Moradores afirmaram que PMs atiraram contra uma moto que passava pelo local, e o tiro atingiu a criança. Ela chegou a ser levada para a UPA do Alemão e transferida para o Hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos.
A kombi onde a menina estava quando foi atingida já passou por perícia. A Polícia Civil vai realizar uma reconstituição do caso. A data ainda será marcada. A Corregedoria da Polícia Militar abriu um procedimento para apurar a atuação dos PMs.
O corpo de Ágatha foi enterrado neste domingo (22) por volta das 16h30, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte. Durante o cortejo, amigos e familiares gritaram por Justiça e aplaudiram no momento em que a criança foi enterrada.
O motorista que dirigia a kombi em que Ágatha Vitória Vitória Sales Félix foi baleada disse que não havia tiroteio na comunidade no momento em que ela foi atingida dentro do carro. Ele disse que viu o policial disparando.
“Não teve tiroteio nenhum, foram dois disparos que ele deu. Falou que foi tiroteio de todos os lados. É mentira! Mentira!”, disse o motorista, que esteve no enterro da menina na tarde deste domingo.
Excludente de ilicitude
Após o assassinato da menina Ágatha, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) defendeu “uma avaliação muito cuidadosa e criteriosa sobre o excludente de ilicitude”, que prevê que policiais que matem durante o serviço não sejam punidos.
“Qualquer pai e mãe consegue se imaginar no lugar da família da Ágatha e sabe o tamanho dessa dor. Expresso minha solidariedade aos familiares sabendo que não há palavra que diminua tamanho sofrimento. É por isso que defendo uma avaliação muito cuidadosa e criteriosa sobre o excludente de ilicitude que está em discussão no Parlamento”, afirmou o presidente da Câmara.
O excludente de ilicitude é uma das propostas do pacote anticrime, enviado ao Congresso Nacional em fevereiro pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. O conjunto de mudanças está sendo analisado por um grupo de trabalho da Câmara.
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