Psiquiatra alerta para a irresponsabilidade após influenciador digital brasileiro incentivar jovens a se matar. Ele apagou o vídeo e divulgou uma justificativa depois da repercussão. Taxa de suicídio de adolescentes no Brasil aumentou 24% nos últimos 15 anos
O comediante e digital influencer Carlinhos Maia causou revolta nas redes sociais neste domingo (1) por divulgar um vídeo que incentiva jovens a se matar. Maia postou em seus stories do Instagram críticas direcionadas a “adolescentes de 16 anos”, denominados por ele como “imbecis”.
“Vocês acharam mesmo que ia ser fácil? Eu vejo aqui meninos de 16 anos me mandando ‘eu quero me matar’. Vai, ô, imbecil! Vai se matar porque você nem começou a vida ainda”, disse o comediante. Após a repercussão negativa do vídeo, Carlinhos Maia removeu o conteúdo do ar.
Mais tarde, na segunda-feira (2), Maia afirmou que não incentivou ninguém a cometer suicídio. O rapaz alegou que seu vídeo foi tirado de contexto por seguidores que querem provocar polêmica.
“Fui dormir completamente despido de qualquer culpa. Vou postar o vídeo completo, porque passaram só um pedacinho. Em momento nenhum eu estava incitando nada. O assunto não era depressão, era gente que quer desistir na primeira pancada e cobiça o que é do outro. Eu estava falando de um todo, de quando as pessoas mal começam a vida e levam um tombo. Não quem tem distúrbios psicológicos”, disse Carlinhos.
Responsável por um dos maiores canais do youtube brasileiro, Felipe Neto se meteu na polêmica e mandou uma indireta para Maia. “Se você ouviu algum influenciador ou alguma pessoa, qualquer que seja, falando que ‘se você tem 16 anos e está sentindo vontade de se matar você tem mais é que se matar mesmo’, ignore isso.”, disse Neto
Neto ainda falou sobre o ‘Setembro Amarelo, mês da prevenção ao suicídio. “Está começando agora o Setembro Amarelo, que é justamente o período em que a gente tenta levantar, todos os anos, a conscientização a respeito da depressão, que é o mal do século no planeta inteiro.”
Suicídio no Brasil
Estudos realizados pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em março deste ano revelam que a taxa de suicídio entre adolescentes no Brasil aumentou 24% de 2005 a 2015. As informações foram publicadas na revista Fórum.
“Os jovens estão conectados cada vez mais tempo. E é possível que a melhor forma de influenciá-los seja através do ambiente online. Ao mesmo tempo em que estão disponíveis informações adequadas, que visam a prevenção de transtornos mentais e suicídio, também estão disponíveis visões distorcidas, repletas de preconceitos que podem ter o efeito de aumentar comportamentos de risco”, disse o psiquiatra Elson Asevedo, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e do Global Mental Health Program da Columbia University, em Nova Iorque.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é responsável por 800 mil mortes anualmente, e o impacto psicológico e social dessas mortes na família e sociedade é “imensurável”. Em média, um só suicídio afeta diretamente ao menos seis pessoas. Se o suicídio ocorrer na escola ou local de trabalho, impacta centenas de pessoas.
“Família e amigos devem estar atentos a mudanças bruscas de comportamento, isolamento social, irritabilidade, redução na realização de atividades que antes gostava de fazer”, acrescentou o pesquisador.
Desigualdade e suicídio
As pesquisas revelaram ainda que os indicadores socioeconômicos estão cada vez mais relacionados com a questão do suicídio no Brasil. Desigualdade social e desemprego foram considerados determinantes sociais relevantes nesse tema.
“Sentimentos de desesperança e inutilidade, que frequentemente ocorrem em quadros depressivos, são vistos como mecanismos psicológicos desencadeantes do comportamento suicida”, disse Asevedo.
Além de Elson Asevedo, o estudo também foi conduzido pelos psiquiatras Jair Mari e Denisse Jaen-Varas.
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