O ataque rasteiro de Bolsonaro ao pai de Michelle Bachelet
Sempre que se sente acuado, Jair Bolsonaro veste o manto da covardia: costuma atacar pai, mãe, filho ou esposa de quem o critica. Atitude não representa apenas birra infantilóide, mas clara desumanidade
Em sua conta no Facebook, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) desferiu ataques contra a Alta Comissária da ONU Michelle Bachelet, após a ex-presidente do Chile fazer duras críticas ao que chamou de “encolhimento do espaço cívico e democrático” no Brasil com o atual governo.
Na postagem, Bolsonaro atacou cruelmente a memória do pai da ex-presidente chilena, o brigadeiro Alberto Bachelet, que após ter sido acusado de “traição à pátria”, faleceu devido a torturas em 1974, meses depois do sanguinário golpe de Augusto Pinochet.
Para Bolsonaro, Bachelet está “seguindo a linha” do presidente da França, Emmanuel Macron, e tenta se “intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira” ao falar de direitos humanos no Brasil.
“Michelle Bachelet, Comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”, escreveu Bolsonaro em seu perfil no Facebook.
Junto com o post, Bolsonaro publicou uma foto em que Bachelet aparece ao lado da ex-presidente deposta Dilma Rousseff e da ex-presidente argentina Cristina Kirchner, em sua segunda cerimônia de posse como presidente do Chile (2006-2018).
No outro trecho da postagem Bolsonaro defendeu a tortura e morte do brigadeiro Alberto Bachelet, pai da Alta Comissária da ONU, por membro da ditadura militar chilena.
“Diz [referindo-se a Bachelet] ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”, escreveu.
A menção faz data do golpe de Estado no Chile que levou Augusto Pinochet ao poder, em 11 de setembro de 1973. Acusado de “traição”, Alberto faleceu em 12 de março de 1974 em decorrência das torturas a que foi submetido no Cárcere Público de Santiago.
O ataque contra a Alta Comissária da ONU veio na esteira da afirmação feita por ela de que o espaço democrático no Brasil está encolhendo no governo Jair Bolsonaro e que isto tem sido evidenciado com os ataques diretos contra defensores de direitos humanos, instituições de ensino e pesquisa e na restrição e criminalização de trabalhos e instituições da sociedade civil, o que inclui as ONGs.
O ataque brutal a Bachelet foi feito às vésperas da primeira viagem de Bolsonaro para participar da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Na reta final da campanha feita pelo governo brasileiro para conseguir mais um mandato como membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o ataque pode decretar a exclusão do país do fórum.
Mais duras críticas em 20 anos
Para Jamil Chade, correspondente brasileiro em Genebra, as críticas de Bachelet representam os mais duros comentários feitos sobre a situação da democracia no Brasil por parte da cúpula da ONU em pelo menos 20 anos.
O jornalista assinala ainda que os comentários são considerados por diplomatas e observadores na ONU como um forte golpe contra as pretensões do Itamaraty de convencer a comunidade internacional de que Bolsonaro está comprometido em defender as liberdades no Brasil.
Bolsonaro será cobrado na ONU por conta das violações de direitos humanos na região amazônica, informa o jornalista. Ao longo dos últimos meses, entidades internacionais acusam o governo brasileiro de estar ignorando os apelos por proteção ambiental.
com Jamil Chade e 247