Tenho convicção de que as pessoas possam mudar, buscar mais empatia, entender que apesar do momento difícil que passamos no Brasil possamos buscar mais compreensão, difundir ideias que acolham uns aos outros de maneira humana, ao invés de propagar ódio por que não propagamos o amor?
Wesley Martins Santos*, Pragmatismo Política
As eleições no Brasil de 2018 trouxeram uma turbulenta disputa ideológica e política, uma briga incansável onde a maioria dos eleitores idealizaram que tinham apenas duas opções: continuar com o PT ou tirar o PT. Essa dicotomia imposta pelos meios midiáticos, verdadeiros ou falsos (as famosas fake news), deram consequência para um cenário ridículo de discussões políticas, as pessoas se degladiaram em redes sociais, mesas de bares e encontros familiares aos domingos, muitas relações afetivas foram destruídas nessas eleições e muitos pseudos cientistas políticos surgiram pelas correntes de whatsapp.
Desde o ano passado venho analisando os pormenores dessa disputa, percebi que as coisas poderiam piorar com o passar do tempo, pois um dos presidenciáveis era, e continua sendo, um admirador da ditadura militar no Brasil, ou seja, a maioria de seus fieis eleitores compartilhavam muito das suas ideias, alguns até desejavam a volta dos militares ao poder.
Estamos agora em 2019 com o presidente que defende o período que perdurou de 1964-1985, uma época tenebrosa e assustadora onde a liberdade de expressão foi duramente reprimida. A ideia do texto que escrevo nesse momento não é detalhar o que foi a ditadura militar ou falar mal do presidente atual (Jair Messias Bolsonaro), creio que ambos, tanto a ditadura quanto o presidente se auto explicam como barbárie já consumada.
Nas últimas semana foram dados alguns depoimentos execráveis pelo atual presidente: “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu, eu conto para ele” e “Está acusando que não estou punindo policiais que estão matando muita gente no Brasil. Essa é a acusação dela. Ela está defendendo direitos humanos de vagabundos. Ela critica dizendo que o Brasil está perdendo seu espaço democrático. Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela”.
A primeira frase foi dita para Felipe Santa Cruz que é filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, que desapareceu na ditadura militar no Brasil. A segunda frase foi dita para Michelle Bachelet, Comissária da ONU para Direitos Humanos.
Ambas as falas do presidente demonstram a verdadeira face do mesmo, suas características mais enraizadas, suas vontades e emoções ditas de boca cheia e os pensamentos mais obscuros que habitam dentro desse ser. Falas que ferem todos aqueles que foram prejudicados pelas torturas realizadas pelas ditaduras na América Latina e que jamais deveriam ser defendidas pelo poder máximo do Executivo.
A questão é saber o motivo da imagem que inaugura esse simples texto tem a ver com as falas de Bolsonaro? Qual seria a possível relação que pode ser feito entre uma arte e comentários nauseabundos?
A obra em questão intitulada “Soldier throwing flowers” é de Banksy, artista de rua britânico que tem como característica trabalhar com estêncil, suas obras estão representadas em vários países da Europa. O soldado lançando um ramo de flores foi um dos seus trabalhos realizados na Palestina, local de intenso conflito marcado pelo ódio e dizimação do povo palestino.
Mas e daí? Qual a relação que pode ser feita com o texto? Como disse anteriormente, a ideia não é enfatizar um texto tendencioso que fale mal do atual presidente, mas sim mostrar caminhos alternativos para tentar amenizar esse período aterrorizante da história brasileira.
O Brasil é o 5º país que mais mata mulheres no mundo, o líder de assassinatos de homossexuais, as mortes por armas de fogo cresceram 39,1% (2007-2017), o feminicídio aumentou 44% no primeiro semestre de 2019 em SP entre outros casos de violência que o Brasil vem apresentando.
A ideia, também, não é culpabilizar o atual presidente para esses dados, pois na maioria dos casos ele não presidia o país. Mas o discurso de ataque através do ódio, através de comentários maldosos com as mortes de familiares torturados pela ditadura, alcança uma parcela significativa daqueles que acreditam nos ideais do chefe do executivo, pessoas que veem nele a salvação para o Brasil sair da crise, pessoas que acreditam que ele pode mudar o Brasil para melhor, mas ao invés de tentar solucionar problemas pertinentes que afetam a sociedade brasileira, prefere ficar homenageando torturadores e ditadores. Lembrando que Pinochet fazia parte de uma rede de pedofilia nazista, pois em 1961 o alemão Paul Schaefer, pedófilo e pregador evangélico, fugiu da Alemanha e veio para o Chile onde foi acolhido por Pinochet e criou uma colônia de exploração sexual de menores.
Gostaria de acreditar que as pessoas não apoiassem nenhum tipo de tortura, que as pessoas não apoiassem nenhum regime ditatorial, nenhum regime fascista e nenhuma forma de atitude que põe em risco a integridade humana através das inúmeras violências. Infelizmente o Brasil não anda nessa esteira, caminha para o lado dos litígios ideológicos e conservadores e ataques desnecessários.
Portanto, tenho convicção de que as pessoas possam mudar, buscar mais empatia, entender que apesar do momento difícil que passamos no Brasil possamos buscar mais compreensão, difundir ideias que acolham uns aos outros de maneira humana, ao invés de propagar ódio por que não propagamos o amor?
Devemos difundir palavras de conforto para os fragilizados emocionalmente e não abrir uma ferida que já foi cicatrizada. Assim como na arte de Banksy, devemos ser uma pessoa com características revolucionárias, ter a coragem consciente que não adianta jogar um coquetel molotov para acabar com os momentos de crise e ódio, devemos ter a coragem de entender que a difusão da empatia e do amor são de suma importância para a construção de um mundo mais humano, mais compreensivo e mais empático.
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*Wesley Martins Santos é Mestre em história social pela PUC-SP e professor da Rede Pública Estadual de São Paulo e do Cursinho Henfil.
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