"Véio da Havan" aparece pela 1ª vez em lista de bilionários brasileiros
Homem que idolatra Jair Bolsonaro ingressa pela 1ª vez no ranking de bilionários brasileiros, na 36ª colocação. Conhecido como o 'véio da Havan', Luciano Hang é condenado na Justiça e representa a alegoria máxima do movimento bolsonarista
Conhecido como o ‘véio da Havan’, Luciano Hang ingressou pela primeira vez no ranking dos bilionários brasileiros. O dono das Lojas Havan ocupa a 36ª posição da lista elaborada pela revista ‘Forbes’, com uma fortuna estimada em R$ 8,26 bilhões.
A rede comandada por Hang tem quase 130 lojas físicas em 17 estados e emprega 16 mil funcionários. O faturamento foi de R$ 7 bilhões em 2018 e a companhia estimou um crescimento de 62% no primeiro semestre deste ano, segundo a “Forbes”.
O bilionário ficou bastante conhecido por ser um dos maiores apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, desde a campanha eleitoral. Hoje, aparece frequentemente ao lado do presidente em eventos, sempre caracterizado com roupas nas cores da bandeira brasileira, além de fazer participações em programas de TV.
Ele também é bastante ativo nas redes sociais e costuma postar vídeos defendendo medidas como a reforma da Previdência, além de críticas à esquerda e ao PT. O ‘véio da Havan’ já chegou a visitar Olavo de Carvalho, guru bolsonarista, nos Estados Unidos. Nas suas redes sociais, Luciano costuma distribuir gratuitamente, via sorteios, os livros do astrólogo de direita.
O envolvimento com a política, porém, lhe rendeu uma condenação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por propaganda eleitoral irregular em favor de Bolsonaro.
O empresário gravou um vídeo durante o período eleitoral em apoio ao então candidato dentro de uma loja da Havan e divulgou no Facebook. O local é considerado “bem de uso comum”, onde, segundo a decisão, é proibida a realização de propaganda eleitoral.
Pelo 7º ano consecutivo, Jorge Paulo Lemann é o homem mais rico do Brasil, com um patrimônio total de R$ 104,71 bilhões. O banqueiro Joseph Safra figura em segundo lugar, com patrimônio de R$ 95,04 bilhões.
Alegoria bolsonarista
O jornalista Fred Melo Paiva, da revista CartaCapital, publicou uma recente reportagem sobre o dono das Lojas Havan. Confira trechos:
Embora não se possa menosprezar o grau de demência que leva um empresário a construir lojas de departamento com a fachada da Casa Branca e instalar Estátuas da Liberdade em suas portas, foi apenas a partir de 2016 que o processo de despirocamento de Luciano Hang o tornou apto à camisa de força.
Aos 56 anos, o Véio nem tão velho assim é dono das Lojas Havan, um improvável caso de sucesso. A copiar a sede do governo dos Estados Unidos, já construiu mais de 1 milhão de metros quadrados, segundo informação da empresa. O mesmo modelo de negócio levou à falência Mappin e Mesbla, mas a Havan quer chegar a 200 megalojas até 2022. Há diferenciais a dar e vender, “preço, qualidade de atendimento” e tal. Nada, porém, que chegue aos pés de gesso da Estátua da Liberdade estacionada à porta, uma bizarrice sem tamanho. Quer dizer, em Brusque (SC), cidade-sede, ela tem 57 metros, 19 a mais do que o Cristo Redentor. É, pois, a maior estátua do Brasil.
Luciano Hang não é apenas o mais serelepe apoiador de Bolsonaro, o primeiro grande empresário a subir ao Titanic do então candidato, hoje rumo ao iceberg com o mesmo Hang a dançar no baile. Véio da Havan é o bolsonarismo em pessoa. Sob sua lustrosa carcaça craniana não há o mais bege sinal de qualquer ilustração. Ao contrário, os macaquinhos pululam em seu sótão na forma de paranoias conspiratórias, inimigos imaginários, fantasmas do comunismo. “Conservador nos costumes e liberal na economia” – eis a senha para o crédito na mamadeira de piroca e o débito nos direitos do trabalhador. Como um Bolsonaro que tem por guia o “Brasil acima de tudo” ao mesmo passo em que bate continência à bandeira americana, o Hang patriota deixará aos arqueólogos do futuro 200 réplicas da Estátua da Liberdade. Some-se a esse conjunto a cafonice em estado de arte, e tem-se o Homem Bolsonarista reunido numa pessoa só.
Acrescente-se, ainda, o que não poderia faltar a este tipo, cujo hábitat natural são as redes sociais: 4 milhões de seguidores no Facebook, 2 milhões no Instagram, 330 mil no Twitter. À numerosa vara oferece pérolas como esta: “Temos que comemorar 1964 e 2018. Por duas vezes o Brasil venceu os comunistas”. Em outras oportunidades, dedica-se ao coaching: “Sempre pensei fora da caixa. Imagine construir uma megaloja em uma cidade pequena com fachada da Casa Branca e colocar uma Estátua da Liberdade na frente. Muitos me chamaram de louco e brega. Acredite no poder do marketing e não desperdice a ideia que pode mudar a sua vida”. Seu esporte preferido, no entanto, é fustigar o PT, mesmo que a golpes de uma enxada com CH: “Vai faltar cadeia se prenderem todos os petistas envolvidos em escândalos de corrupção pelo País. Como dizia um amigo meu, cada enchadada uma minhoca”.
Para conhecer o pensamento vivo do Homem Bolsonarista, deite-se por um instante nas redes de Hang. Sua peculiar ciência política considera comunistas o governador de São Paulo, João Doria, e o apresentador da Globo Luciano Huck. Bem, já pode se levantar.
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A culpa é do PT. Sim, a culpa pela meteórica ascensão do Homem Bolsonarista é de Lula, exata e precisamente, diria o poeta golpista, de Lulinha. Ali por 2016, segundo o grupo de parentes do WhatsApp, o filho do ex-presidente era dono de um avião, uma Ferrari dourada e uma holding composta pela JBS, Friboi e… Lojas Havan, esta última em sociedade com a filha da ex-presidenta Dilma Rousseff. Desgostoso com os novos acionistas, Luciano Hang decidiu transformar-se no próprio garoto-propaganda de seu negócio ao lançar a campanha “De quem é a Havan?” Como seu marketing já se baseava nos “merchans” em programas populares como os de Ratinho, Luciana Gimenez e Celso Portiolli, passou ele próprio a frequentar os estúdios como convidado. Tendo gostado da brincadeira, tornou-se um dos maiores anunciantes privados do Brasil. Apenas no SBT, em 2018, contratou 50 milhões de reais em espaço para reclames, levando de lambuja o canal aberto para entrevistas em que jamais se pergunta, por exemplo, a respeito da condenação na Justiça catarinense por evasão de divisas.
Antes de Lulinha tomar posse na Casa Branca, Luciano Hang, creia, era uma pessoa discreta. Trabalhador da indústria têxtil da região, assim como seus pais, fundara a própria loja de tecidos num espaço de 45 metros quadrados em 1986. Hang entrou com o Ha, o sócio Vanderlei de Limas com o Van – e deu-se a Havan. “Não adianta você perder tempo e arrumar uma carga de melancia em uma carroça. Conforme a carruagem for andando, as melancias vão se mexendo”, ensina o Homem Bolsonarista em sua versão coach. “No dia a dia da sua empresa também é assim. Você vai ter que ajeitar os processos aos poucos. Comece e vá adaptando no andar da carruagem.”
Em 1999, as melancias da Havan foram flagradas se ajeitando na carroça em desacordo com as regras do jogo. Uma operação de busca e apreensão foi determinada pela Procuradoria da República em Blumenau. A empresa foi autuada em 117 milhões de reais pela Receita Federal e em 10 milhões pelo INSS. Por meio do Refis, a multa foi parcelada e o débito será quitado em 115 anos. Em 2004, o Ministério Público Federal propôs uma ação penal contra Hang e outras 13 pessoas por facilitação de descaminho, descaminho, falsificação, crime contra o sistema financeiro e a ordem tributária, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Condenado a 13 anos, nove meses e 12 dias de reclusão, além de multa de 1,2 milhão de reais, teve a pena extinta em 2008 pela 1ª Vara da Justiça Federal em Itajaí (SC), que julgou inepta a denúncia.