Justiça

Em julgamento mais longo da história do DF, arquiteta é condenada a 67 anos de prisão

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Arquiteta foi apontada como a mandante das mortes da mãe, do pai – ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – e da empregada da família. Triplo homicídio ficou conhecido como o 'Crime da 113 Sul'. Aos gritos, amigos da arquiteta protestaram na porta do tribunal após a sentença

Adriana Villela (Imagem: Vitor Mendonça/Jornal de Brasília)

A arquiteta Adriana Villela foi condenada nesta quarta-feira (2) a 67 anos e seis meses de reclusão em regime fechado. Ela é apontada como mandante do assassinato dos próprios pais, o ex-ministro José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, além de Francisca Nascimento Silva, que trabalhava com a família havia 30 anos. Em 28 de agosto de 2009, os três foram esfaqueados até a morte no que ficou conhecido como crime da 113 Sul.

A pena estipulada pelo juiz foi de 32 anos pela morte da mãe, 32 anos pela do pai e mais três anos e seis meses por furto. A ré também havia sido condenada a 23 anos de reclusão pela morte de Francisca Nascimento, mas a pena foi desconsiderada por tratar-se de um crime continuado. Adriana poderá recorrer em liberdade ao próprio Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

O julgamento começou há 10 dias, durou mais de 100 horas e foi o mais longo registrado na história do Distrito Federal. Ao longo do júri, 24 testemunhas, sendo 8 de acusação e 16 de defesa, foram interrogadas. Delegados, peritos, familiares e amigos de Adriana compareceram ao plenário para prestar informações sobre o crime.

Teses

A acusação contra Adriana foi embasada na confissão dos três condenados pelo triplo homicídio. Além disso, a promotoria apresentou um laudo feito por papiloscopistas da Polícia Civil, que mostra a marca da palmar de Adriana no apartamento dos pais. Segundo o Ministério Público, essa digital é indício de que ela esteve na casa da família Villela no dia do crime. Um exame para comprovar a data dessa marca foi feito.

A aposta da defesa, por sua vez, foi uma linha do tempo de onde Adriana esteve no dia do crime. Além disso, apresentaram peritos criminais, que contestaram laudos contidos nos autos do processo. Um deles, Sami El Jundi, contratado pelos advogados, usou técnicas do FBI (Polícia Federal dos Estados Unidos) para reavaliar o caso. Ele indicou que o crime tem sinais de latrocínio e não homicídio.

A tese da acusação convenceu a maioria dos jurados. Segundo o Ministério Público, o crime foi cometido por desavenças financeiras entre Adriana Villela e os pais. Os promotores alegaram que ela interferiu nas investigações e que os pais da arquiteta já tinham reclamado do “temperamento agressivo” da acusada.

O procurador do Ministério Público do DF Maurício Miranda exibiu em um telão trechos de uma carta escrita pela mãe de Adriana Villela e endereçada à filha. “Adriana, nossa paciência se esgotou. Estamos cansados dos seus destemperos. Se você sofre de agressividade compulsiva, procure um tratamento adequado, porque isso está lhe fazendo muito mal,” dizia o texto.

Durante leitura da sentença, o juiz Paulo Rogério Santos Giordano destacou que Adriana Villela demonstrou “frieza e capacidade de manipular as pessoas”.

Aos gritos de “Adriana é inocente”, amigos protestaram contra a decisão:

Demora do caso

O procurador Maurício Miranda comentou sobre a demora na resolução do caso. “O balanço que eu faço é que a lei é muito injusta porque cria diferença na aplicação entre o rico e o pobre. Acredito que precisa haver uma modernização no sentido de facilitar para que todos tenham o mesmo tratamento. Que o julgamento não seja mais demorado por conta de condição econômica.”

Outras três pessoas já tinham sido condenadas sob a acusação de terem executado o crime. Leonardo Campos Alves, Francisco Mairlon e Paulo Cardoso Santana foram condenados em julgamentos realizados pelo Tribunal do Júri entre 2012 e 2016 a penas que vão de 55 a 62 anos de prisão.

Adriana e os pais

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