Novas evidências mostram que Jair Bolsonaro pode ter atendido porteiro do condomínio no dia da morte de Marielle Franco. Se fizer jornalismo, a Globo conseguirá ressuscitar a denúncia
Editor do site GGN, o jornalista Luis Nassif alerta para os erros de cobertura da Rede Globo sobre as investigações do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL) e publica uma informação que até agora não foi abertamente levantada pela imprensa nem pelo Ministério Público.
Nassif apurou que o condomínio onde mora Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, não tem interfone. “O condomínio abriu mão de interfones, por ser caro e por problemas de instalação. Optou-se por telefonar ou para o celular ou para o telefone fixo de cada proprietário”.
“No caso de Bolsonaro, as ligações são para o próprio celular de Bolsonaro. E é ele quem atende. O que significa que a versão do porteiro não era descabida. Ou seja, o fato de estar em Brasilia não o impedia de atender o telefone”, acrescenta Nassif.
Os serviços de portaria à distância não são novidade no mercado brasileiro. Pela internet, é fácil encontrar diversas marcas que vendem a tecnologia, como a empresa Legrand, que oferece produtos de vídeo-porteiro com imagem colorida.
Nassif destaca, ainda, que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) também recebe os recados pelo celular. “Em geral, Carlos fica pouco no condomínio, pois prefere permanecer em seu apartamento na zona sul. Mas porteiros ouvidos por moradores sustentam que, naquele dia, ele estava no condomínio”.
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“O porteiro do depoimento está de férias. Mas moradores do condomínio foram, por conta própria, conversar com os demais porteiros. E eles garantiram que a ligação foi feita para Bolsonaro mesmo.”
Carlos
Depois da reportagem exibida pelo Jornal Nacional sobre o depoimento do porteiro, Carlos Bolsonaro também foi às redes sociais se defender e disse que não estava no condomínio no momento da chegada de Élcio de Queiroz, um dos assassinos de Marielle.
No entanto, Carlos Bolsonaro aparece atendendo a uma ligação da portaria nos áudios exibidos por ele mesmo nas redes sociais.
Renato Rovai, da Revista Fórum, considera inexplicável o recuo da Globo diante do caso. A emissora foi duramente agredida por Bolsonaro em uma transmissão ao vivo.
“Ontem, antes de postar a lista dos áudios e das chamadas por interfone, o filho do presidente disse que estava na Câmara Municipal no horário das visitas ao condomínio. Mas, curiosamente, ao apresentar os áudios para defender seu pai, havia ali uma chamada para a sua casa. Onde estava Carluxo então? Na Câmara ou na Barra? A internet explorou essa contradição, mas por que a Globo silenciou?”, questionou Rovai.
“Outra coisa absolutamente surpreendente [sobre Carlos Bolsonaro] é que a Globo não questionou o fato de ele ter mexido nas provas antes de o MP ter acesso a elas. Na manhã de ontem ele já apresentava o vídeo com a relação das visitas do dia para defender o pai. Por que a Globo ignorou solenemente essa ação?”, continua Rovai.
Um documento apresentado à Justiça revelou que a perícia feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nas gravações da portaria do condomínio do presidente Jair Bolsonaro não avaliou a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado ou renomeado antes de entregue às autoridades.
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Passagem marcada
Nesta quarta-feira, o jornalista Fernando Brito destacou que Jair Bolsonaro tinha passagem marcada para o Rio de Janeiro no dia 14 de março de 2018, data da execução de Marielle Franco.
Naquela data, um dos assassinos dela entrou no condomínio de Bolsonaro para se encontrar com o comparsa. Élcio Vieira de Queiroz é o mesmo que postou foto no Facebook com o presidente do Brasil.
“Embora Bolsonaro conste na lista de presença da Câmara dos Deputados no dia 14 de março, aquela sessão foi encerrada sem votações que comprovassem a presença de deputados no plenário”, pontua Brito.
“Naquele dia 14 de março do ano passado, Jair Bolsonaro havia comprado dois bilhetes aéreos com destino ao Rio, ambos pela Gol: um o de código WQ2GUH, com destino ao Santos Dumont. Outro, de código YG3JQI, dirigindo-se ao Galeão”, informa o jornalista.
Promotora bolsonarista
As promotoras do Ministério Público do Rio de Janeiro provocaram suspeita por demorarem menos de 24 horas para garantir que o porteiro do condomínio de Bolsonaro é um “mentiroso”.
Em uma pesquisa simples nas redes sociais, foi possível descobrir que uma das três mulheres que integra o núcleo de investigação da morte de Marielle Franco é suspeita para atuar no caso.
Carmen Eliza Bastos aparece vestindo camisetas de Jair Bolsonaro e chama o presidente de “mito”. Ela chegou a posar ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), responsável por destruir uma placa feita em homenagem a Marielle, durante a campanha eleitoral (veja aqui).