Jair Bolsonaro posta vídeo tosco no Twitter, é criticado por Celso de Mello e depois apaga o conteúdo. Questionado por jornalistas, o presidente abandonou entrevista. Mais tarde, pediu desculpas mas não responsabilizou Carlos pela postagem
Logo depois de publicar um vídeo (ver abaixo) considerado tosco e infantil nas redes sociais, Jair Bolsonaro apagou o conteúdo por conta da repercussão negativa.
No vídeo, Bolsonaro se compara a um leão acossado por hienas que o atacam. Uma delas representa o STF (Supremo Tribunal Federal). Outras hienas representam a imprensa, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a ONU (Organização das Nações Unidas), o Greenpeace, partidos de oposição (como PT, PSOL e PC do B) e o seu próprio partido, o PSL.
O vídeo, que dá a entender que ninguém no Brasil presta — a não ser o próprio Bolsonaro — provocou reação no STF. O ministro Celso de Mello, decano da corte, disse que a postagem evidencia que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.
Ao sair do hotel onde está hospedado em Riade, capital da Arábia Saudita, Bolsonaro foi questionado por um repórter que fez menção a Celso de Mello. O presidente interrompeu a entrevista e se retirou do local.
Mais tarde, em entrevista ao Estadão, Bolsonaro pediu desculpas. “Me desculpo publicamente ao STF, a quem por ventura ficou ofendido. Foi uma injustiça, sim, corrigimos e vamos publicar uma matéria que leva para esse lado das desculpas. Erramos e haverá retratação”, disse Bolsonaro.
O presidente não respondeu se o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), seu filho, foi o responsável pela publicação do vídeo. O tuíte veio depois de postagens com teor semelhante feitas por Carlos, que já admitiu em outra ocasião publicar nas redes do presidente.
Bolsonaro afirmou que não se pode culpar Carlos, que mais pessoas têm a senha das suas redes e que a responsabilidade era dele. O presidente disse ainda que orientou sua equipe a evitar esse tipo de conteúdo.
Mourão
O presidente interno Hamilton Mourão disse nesta terça não acreditar que tenha sido Bolsonaro que publicou o vídeo. Para o general da reserva, a publicação foi divulgada por alguém que “tem acesso à rede social” do presidente. Ele, no entanto, não quis arriscar um palpite.
“Acho que foi alguém que postou. Alguém que tem acesso à rede social dele. Não sei quem. E ele, obviamente quando viu, tirou”, disse.
A aposta de aliados do presidente é de que o vídeo foi compartilhado por Carlos. A publicação em rede social foi feita no momento em que Bolsonaro entrava numa limusine em Riad, capital da Arábia Saudita, a caminho de um jantar com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
Bolsonaro postou o vídeo em meio às vitórias da esquerda e manifestações de rua em países da América Latina. “Chile, Argentina, Bolívia, Peru, Equador… Mais que a vida, a nossa liberdade. Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!”, escreveu o presidente.
Celso de Mello
A seguir, leia a íntegra da crítica de Celso de Mello ao tuíte do presidente:
“Torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma ‘hiena’ culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.
É imperioso que o Senhor Presidente da República — que não é um ‘monarca presidencial’, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados — saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil”.
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