Mulheres violadas

Homem que explodiu carro da ex-namorada expõe outra face do feminicídio

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Homem que não aceitava o fim do relacionamento explode carro com a ex-namorada dentro usando coquetel molotov e fogos de artifício. Crime expõe outras faces do feminicídio

Ex-namorado explodiu carro de Luciene Ferreira Sena. Os dois morreram

Elisangelo Marconis Francisco dos Santos, de 41 anos, morreu na tarde do último domingo (29) em Pirassununga (SP) após atear fogo no carro em que estava com a ex-namorada. Segundo a Polícia Civil, o homem não aceitava o fim do relacionamento.

Luciene Ferreira Sena, de 39 anos, passou um dia internada em estado grave, com 80% do corpo queimado. A técnica em enfermagem não resistiu aos ferimentos e sua morte foi confirmada às 23h15 de domingo.

O crime aconteceu por volta de 7h15, logo após a mulher sair de um plantão na Santa Casa, onde trabalhava. O homem entrou no veículo de Luciene e o incendiou com um líquido inflamável e fogos de artifício.

O carro ficou desgovernado e parou quando bateu atrás de outro estacionado. Segundos antes, o homem saiu do carro com o corpo em chamas e se jogou no asfalto e na grama do canteiro central na tentativa de apagar o fogo.

A mulher continuou no carro e moradores tentaram ajudá-la com extintores. Segundo o boletim de ocorrência, uma faca foi usada para cortar o cinto de segurança.

O carro que estava na frente foi retirado e o que estava em chamas continuou descendo a rua. Um PM chegou, abriu as portas e o fogo ganhou ainda mais força.

Depois de algumas tentativas, a mulher foi retirada pelo policial. Os bombeiros conseguiram controlar as chamas minutos depois. Uma garrafa plástica com líquido inflamável, um isqueiro e um rojão foram apreendidos pela polícia.

Parentes e amigos da mulher disseram que o relacionamento do casal era instável e cheio de brigas. Ela queria se separar do homem, mas ele a perseguia.

Feminicídio em público

Autora do livro “Feminicídio: Tipificação, Poder e Discurso”, a advogada Renata Bravo afirma que o feminicídio em público chama a atenção não apenas pelo feminicídio em si, mas também por expor outras faces desse tipo de crime: a motivação em exibir a violência para a sociedade.

Embora a maioria dos ataques ainda ocorra dentro de casa, Renata afirma que o assassinato de mulheres em público está aumentando a cada dia. “Os agressores se sentem autorizados a irem para a rua agredir as companheiras para passar a mensagem de poder”, afirma.

“Eles querem mostrar à sociedade que o poder é deles. Muitos usam o argumento de que a violência foi um castigo ou uma vingança contra a mulher, pois ela saiu da posição de subordinada”, observa.

No livro, Renata analisou processos criminais de feminicídios ocorridos em Vitória (ES) a partir de estudos sobre relações de poder entre os gêneros.

A especialista em violência contra a mulher cita o feminicídio em Pirassununga (SP) como um caso premeditado. “Uma discussão em casa até pode se entender como impulso. Mas, quando o agressor pega uma arma de fogo ou uma substância inflamável, como o que aconteceu em Pirassununga, a pessoa teve tempo para chegar até o local e pensar. E, mesmo assim, cometeu o ataque”, argumenta.

Por fim, o feminicídio em público é uma espécie de recado para todas as mulheres. É como se o agressor dissesse: ‘Estão vendo o que acontece com mulheres desobedientes e que terminam o relacionamento?’.

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