Bolsonaro não assina diploma do Prêmio Camões, vencido por Chico Buarque
Chico Buarque ironiza pequenez de Jair Bolsonaro por se recusar a assinar diploma do Prêmio Camões, considerado por Brasil e Portugal como o mais importante prêmio da literatura em língua portuguesa
O cantor, compositor e escritor Chico Buarque ironizou no Instagram uma declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre o Prêmio Camões. O artista foi selecionado para receber a premiação, considerada a mais importante da literatura em língua portuguesa, pelos governos do Brasil e de Portugal.
Jair Bolsonaro comentou para jornalistas em Brasília que tinha até o fim de um possível segundo mandato para “assinar embaixo” do prêmio. “É segredo. Chico Buarque? Eu tenho prazo? Até 31 de dezembro de 2026, eu assino”, comentou.
Chico Buarque rebateu: “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo prêmio Camões”.
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, demonstrou surpresa ao saber que o presidente Bolsonaro ainda não assinou o diploma. “Não tenho informação sobre isso. Sei que eu assinei o diploma, então não tenho mais informação. Se não levem a mal, tenho que verificar o que se passou”, ele disse.
A 31ª edição do prêmio dá ao vencedor 100 mil euros. O valor do prêmio é dividido entre Brasil e Portugal, e a parcela brasileira já foi paga. O anúncio do vencedor foi feito no dia 21 de maio na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, pela presidente da instituição, Helena Severo.
Em maio, Chico se disse lisonjeado por receber o prêmio. “Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, afirmou o artista, em referência ao último vencedor brasileiro. Nassar, autor de “Lavoura arcaica” e de “Um copo de cólera”, foi reconhecido em 2016.
Prêmio Camões
Instituído em 1988, o Prêmio Camões de Literatura tem o objetivo de reconhecer um autor de língua portuguesa que tenha “contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural” do idioma através de seu conjunto da obra.
Conhecido principalmente como um dos maiores nomes da MPB, Chico Buarque conseguiu sucesso também como dramaturgo e como escritor. Além de ganhar os prêmios Jabuti de melhor livro do ano por “Leite Derramado” e por “Budapeste”, também foi ganhador como melhor romance com “Estorvo”.
O júri responsável pela escolha é formado por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa.
“Os textos de Chico Buarque para teatro, as óperas são de uma qualidade sensacional. Assim também são os romances. Portanto é uma obra no seu conjunto que justifica esta nossa decisão”, afirma o jurado português Manuel Frias Martins, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
“Ele não era o único nome, mas o Chico Buarque reúne uma universalidade que faltava a outros candidatos. Universalidade de tocar em várias culturas. E isto dava ao Chico um consenso quase natural. Foi relativamente fácil chegar ao nome dele”, acrescentou o professor.
Para o jurado brasileiro Antônio Carlos Hohlfeldt, jornalista, escritor e professor universitário, é impossível contar a história do Brasil entre os anos 1960 e 1990 sem conhecer a obra de Chico Buarque.
13º ganhador brasileiro
Com a concessão deste prêmio, Chico se torna apenas o 13º brasileiro a fazer parte de um seleto grupo de grandes nomes como Jorge Amado (1994) e os portugueses José Saramago (1995) e António Lobo Antunes (2007). Outros vencedores ilustres são Mia Couto, João Ubaldo Ribeiro e Ferreira Gullar.
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“A variedade de produção do Chico também foi importante. Ele tem a poesia, a dramaturgia e os romances. Particularmente, eu não sou muito fã dos romances, mas é indiscutível que um poema como ‘Construção’, que trabalha com proparoxítonas rimadas, é um negócio extraordinário. É das coisas mais difíceis de fazer em língua portuguesa. Assim como outras tantas contribuições que o Chico tem, com penetração em todos esses países.”
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“A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo prêmio Camões.”
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