Escola cancela prova com texto de Gregório Duvivier crítico a Jair Bolsonaro
Censura: Colégio particular de elite de Belo Horizonte cancela prova após pais reclamarem de uma questão que tinha conteúdo crítico ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). Texto é de autoria do ator e escritor Gregório Duvivier
Um texto do ator e escritor Gregório Duvivier foi censurado por uma escola particular de Belo Horizonte. Pais de alunos reclamaram com a direção do Colégio Loyola porque o conteúdo era crítico ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A escola cancelou a prova de Língua Portuguesa que continha o texto e a atitude repercutiu nas redes sociais. O Sindicato dos Professores de Minas Gerais emitiu nota de repúdio e indignação e chamou o ato de “censura”.
A questão causadora da polêmica não pedia a opinião dos estudantes. Eles deveriam responder a perguntas fechadas de Língua Portuguesa, tomando por base o artigo de Duvivier. No texto, o ator classifica o atual governo como um “gatilho poderoso para a depressão”, e, para ele, o presidente “parece eleito pela indústria farmacêutica para vender antidepressivo”.
A presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro) diz que a entidade foi procurada por professores e ex-alunos “horrorizados” com a atitude de pais retaliando o texto de Duvivier, em uma prova escolar. Em nota, a entidade tratou o cancelamento do teste como “censura, retaliação e mordaça aos trabalhadores da educação”.
Valéria Morato argumenta se tratar de um conteúdo aberto, disponível na internet, que não deveria ter sido motivo para cancelar a prova. “Causou espanto quando vimos a reação da escola de anular a prova”.
De acordo com a presidente do Sinpro, o Colégio Loyola negou suas próprias tradições. “É uma escola conceituada, que sempre prezou por um espaço democrático, de crescimento, de oferecer o direito ao contraditório. Nos surpreende que a escola se curve retirando a autonomia do professor. Na nossa avaliação, fere a liberdade de cátedra”.
A questão que causou o alvoroço contém informação para ajudar na formação dos alunos, avalia Morato. Para ela, se o professor optou pelo texto, é um sinal de que respeita o projeto político-pedagógico da instituição.
“A profissão de professor tem sido atacada por pessoas que desconhecem o processo pedagógico. Não é papel docente colocar uma venda nos olhos dos alunos e lhes mostrar uma visão ‘filtrada’ da realidade em que vivemos”, acrescenta.
O que diz o Colégio Loyola
O diretor acadêmico do Colégio Loyola, Carlos Freitas, alega ter ocorrido uma falha na formulação da questão. Para justificar a censura, ele afirma que a questão apresentava ausência do “contraditório”.
“Todo texto precisa ter o contraditório. A prova é feita pelo professor e passa por outro professor da mesma disciplina, que atua como assessor na construção do conteúdo pedagógico. Essa passou por esses dois crivos, sem perceber que a questão não atendia à orientação de ser apartidária”, afirmou Freitas.
“Nós cancelamos a prova e propusemos outra prova. A professora foi chamada, não há retaliação e nem culpa”, disse, acrescentando que a escola aplicará outra prova nos próximos dias e prevalecerá a maior nota, caso o estudante opte por fazer.