A decadência da Lava Jato pode ser verificada pelo fracasso do lançamento do livro “Nada Menor que tudo”, de Rodrigo Janot. Dos 550 livros colocados à venda, apenas 43 foram vendidos. O número de jornalistas era maior do que o de pessoas na fila para os autógrafos
A decadência da Lava Jato pode ser verificada pelo fracasso do lançamento do livro “Nada Menor que tudo”, de Rodrigo Janot, ontem, em São Paulo.
Dos 550 livros colocados à venda, apenas 43 foram vendidos, segundo anotou o repórter Sergio Roxo, de O Globo. O número de jornalistas era maior do que o de pessoas na fila para os autógrafos.
Na obra, Janot faz relatos importantes, alguns inconclusivos e com detalhes que precisam de complementos, mas que revelam, no entanto, a ambição política dos procuradores.
Na pagina 170, por exemplo, está descrita uma reunião em que Deltan Dallagnol tentou constranger Janot para que ele fizesse uma denúncia contra Lula, “o objetivo do desejo” dele.
O coordenador da Força Tarefa havia feito o showzinho dele em Curitiba, com a exposição em power point em que Lula era apresentado como “o grande general” e “comandante máximo da organização criminosa”.
Mas faltavam provas, e Dallagnol queria que Janot acelerasse a denúncia contra o PT por organização criminosa, de forma que fizesse sentido a acusação de que Lula fosse um comandante máximo.
Janot não atendeu e, assim mesmo, a denúncia em Curitiba prosseguiu. Dallagnol teria ficado irritado com o chefe do Ministério Público Federal.
“Você está querendo interferir no nosso trabalho!”, afirmou Dallagnol, ao que Janot teria respondido:
“Eu não quero interferir no trabalho de vocês. Ao que parece, vocês é que querem interferir no meu.””
Por que Dallagnol teve tanta pressa de denunciar Lula em setembro de 2016, com uma apresentação em que expos sua convicção, mas nada de prova?
A resposta pode estar no calendário eleitoral. O de 2018, ano de eleição presidencial, da qual Lula teria de ser afastado. Mas também o de 2016, ano de eleição para prefeito.
Era o auge da disputa, e a ofensiva da Lava Jato teve reflexo na disputa nas capitais. Em São Paulo, por exemplo, João Doria foi beneficiários direto das ações dos procuradores de Curitiba.
No dia seguinte à denúncia formulada por Dallagnol, Doria explorou o assunto, em entrevista à imprensa:
“Lula tem contas a pagar e vai responder por isso”, disse.
O primeiro turno da eleição ocorreria duas semanas depois, e Doria seria eleito — pela primeira vez em São Paulo desde 1988, não houve de segundo turno.
Dallagnol apresentou a denúncia do triplex sem provas, mas conseguiu provocar um estrago na disputa eleitoral. Só isso explica a pressa que ele tinha.
Nem revelações como esta ajudaram a levar público para a livraria. Não porque o livro não seja relevante, mas porque a figura de Janot não desperta interesse.
É o que acontece com líderes fracos, quando ocupam postos muito maiores do que eles. Janot era um dos poucos que, já àquela época, sabiam da farsa que era a Lava Jato.
Poderia ter agido para restabelecer a verdade, sem interferir no trabalho dos procuradores, mas apenas se contrapondo à sua ofensiva.
Ele não quis apresentar a denúncia contra o PT no tempo requerido pelos procuradores, mas apresentou depois — mesmo assim, uma denúncia inconsistente — e, já na ocasião, deixou correr solta a lenda de que o PT era organização criminosa.
Já tinha cedido à tentação da glória fugaz, quando, por exemplo, segurou o cartaz com a frase “Janot, vc é a esperança do Brasil”, que lhe foi entregue pela malta ensandecida.
Ontem, nenhum daqueles que o aplaudiram foi à livraria pedir seu autógrafo. Para estes, Janot já cumpriu a missão. Não conteve a ofensiva desonesta da república de Curitiba.
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