Encarar com grandeza a importância deste profissional passa pela defesa radical de melhores escolas, de salário digno aos professores e da garantia irredutível de sua autonomia pedagógica. Sem isso, qualquer mensagem com flores ou corações voadores, se torna um ornamento inútil e passageiro.
Denis Castilho*, Pragmatismo Político
De acordo com o Censo da Educação Básica de 2018, apenas 30,2% das escolas públicas municipais de Educação Infantil e 53,7% das estaduais de todo o país possuem biblioteca.
No Norte, centenas de escolas não possuem sequer esgoto sanitário. No caso dos professores, estudo do MEC (2017) revela que mais de 3 mil municípios brasileiros não pagam o piso salarial.
Mas a realidade é ainda pior quando se considera que em muitos estados, há mais contratos temporários do que efetivos. Em Goiás, por exemplo, os temporários somam maioria em 52,7% dos municípios.
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É uma vergonha o modo como se trata o professor e a educação neste país. Qual o sentido de desejar feliz dia dos professores sem fazer algo para alterar este quadro?
E tem mais. Estudo da OCDE intitulado Education at a Glance (Um Olhar sobre a Educação) revela que o Brasil investe anualmente 3,8 mil dólares por aluno da Educação Básica. Países da OCDE investem 8,7 mil na fase que vai até a 5ª série e 10,5 mil no restante dos anos.
Não bastasse essa vergonhosa posição do país, recentemente uma das pastas mais afetadas pelos cortes do governo, foi a Educação. Soma-se a isso, a atitude irresponsável e hipócrita de membros do governo ao incentivarem a intimidação e o cerceamento do trabalho docente. Uma afronta rude que só piora o ambiente escolar.
As consequências já estão em todas as partes. Professores depressivos, sobrecarregados e muitos abandonando a profissão. Milhares têm sido ameaçados e perseguidos, numa triste e enfadonha realidade incentivada por um movimento que encontra apoio no governo.
Diante deste quadro lamentável e irresponsável, a melhor forma de desejar feliz dia dos professores, é defender a autonomia do trabalho docente; é lutar contra movimentos como o Escola Sem Partido que jogam a sociedade contra o professor e que desviam a atenção dos reais problemas da educação.
Sim, não deixe de dar flores aos seus professores. Não deixe de construir, junto a eles, valores como a generosidade, a cooperação e o respeito. Mas em situações como a que vivemos no Brasil, encarar com grandeza a importância deste profissional passa pela defesa radical de melhores escolas, de salário digno aos professores e da garantia irredutível de sua autonomia pedagógica. Sem isso, qualquer mensagem com flores ou corações voadores, se torna um ornamento inútil e passageiro.
Referências:
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Censo da Educação Básica 2018. Brasília, DF, 2019.
ORGANIZAÇÃO para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. Education at a Glance 2018 – um olhar sobre a educação. Portal ODS, 2018. Disponível em: http://portalods.com.br/publicacoes/education-at-a-glance-2018-um-olhar-sobre-a-educacao>. Acesso em: 15 out. 2019.
Maioria dos municípios não paga o piso salarial aos professores, diz MEC. G1 Educação, 13 jan. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/maioria-dos-municipios-nao-paga-o-piso-salarial-aos-professores-diz-mec.ghtml. Acesso em: 15 out. 2019.
*Denis Castilho é doutor em geografia e professor do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás.
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