No programa Hard Talk, da BBC, Salles adotou como tática mentir menos e concordar com as afirmações do entrevistador, de modo a não se comprometer. Admitiu o aumento de incêndios e disse que não concorda com as opiniões do chanceler Araújo sobre o aquecimento global
No programa Hard Talk, da BBC, o ministro do meio ambiente adotou como tática mentir menos e concordar com as afirmações do entrevistador, de modo a não se comprometer. Admitiu que os focos de incêndio foram muito mais numerosos do que no ano passado. Quanto ao aquecimento global, disse que não concorda com as opiniões do chanceler Araújo e admitiu que a atividade humana é sua principal causa.
Salles piscou quando confrontado com a crítica dos 8 ex-ministros de meio ambiente e tentou colocá-los no mesmo saco das vilipendiadas ONGs. Aliás, ele conseguiu se esquivar da pergunta quanto ao porquê do seu governo ter eleito as ONGs como inimigas mortais. E piscou de novo quando teve que explicar porque a Noruega e a Alemanha avaliam que seu governo não protege o meio ambiente, o que levou estes países a se afastar do Fundo Amazônia.
Perguntado sobre o corte do orçamento do Ibama, Salles disse que os cortes foram todos nos custos administrativos e que as atividades de fiscalização não sofreram nenhum corte – essa foi sua única afirmação passível de verificação.
O entrevistador, Stephen Sackur, perguntou o que ele fez diante do aviso prévio e público do “Dia do Fogo” em Novo Progresso. Salles disse que avisou a polícia. Sackur ficou pasmo com o atrevimento da resposta.
Já para o final, Sackur conseguiu caracterizar o ministro como muito mais amigo dos grandes negócios do que do meio ambiente. A entrevista está disponível no site da BBC, tanto o vídeo como só o áudio.
O noticiário do Itamaraty, normalmente profícuo, criou uma manchete que é um autoelogio e apenas mais meia-dúzia de linhas. Nenhum comentário sobre o restante da entrevista.
Salles também foi entrevistado pelo Financial Times, quando apresentou uma conta surreal: disse que os países ricos deveriam pagar para a população da Amazônia não desmatar. O total da conta daria US$ 12 bilhões por ano. Márcio Astrini, do Greenpeace, disse que a quantia é ‘impossivelmente’ grande. Como ninguém vai pagar, azar da floresta.
No final, Anna Gross e Leslie Hook mencionam analistas que “dizem que a Amazônia se tornou um campo de batalha fundamental para a guerra cultural de Bolsonaro contra a esquerda e o liberalismo em geral.” O bastião liberal Financial Times deve ter estranhado ter sido colocado ao lado da esquerda. E vice-versa.
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook