Bolsonarista que matou mestre Moa é condenado a 22 anos de prisão
Mestre Moa do Katendê morreu porque votou no candidato do PT nas eleições presidenciais de 2018. Júri popular decidiu nesta quinta-feira pela condenação do assassino. Filha de Moa fez depoimento comovente
O bolsonarista Paulo Sérgio Ferreira de Santana foi condenado nesta quinta-feira (21) a 22 anos de prisão em um julgamento que durou mais de 12 horas em Salvador (BA).
Paulo deu 13 facadas no mestre de capoeira Moa do Katendê por conta de divergências políticas em outubro de 2018, horas após a votação do primeiro turno da eleição presidencial.
Segundo as investigações, Moa discordou da posição política de Paulo, que disse ser eleitor do candidato Jair Bolsonaro (PSL), e foi esfaqueado ao revelar que tinha votado no candidato do PT, Fernando Haddad. Quando foi atacado, Moa estava em um bar com o primo Germino, de 52 anos, que também foi ferido com os golpes de faca.
Familiares e amigos do mestre Moa acompanharam o julgamento durante todo o dia. Após a sentença ser lida, eles comemoraram que a justiça foi feita e gritaram “Moa vive”.
“Meu pai era como uma borboleta”
“Um homem digno de verdade, bastante conciliador, não mexia com ninguém. Meu pai era tudo pra mim. Ele era muito educado, um homem de poucas palavras. Nossa família ficou dilacerada, nos faltou chão”. disse Somomair dos Santos, filha do mestre de capoeira, durante o júri.
“É uma dor enorme no coração. É difícil aceitar o acontecimento desse fato até hoje. É uma ferida que jamais vai cicatrizar. Ele não tinha maldade com ninguém, era como uma borboleta, ele estava de costas e foi pego covardemente. Meu pai nunca havia se envolvido em confusão alguma e até hoje nós nos perguntamos como isso aconteceu”, afirmou a filha de Moa.
Dono do bar
João Carlos da Silva Costa, dono do bar onde aconteceu o crime, disse ao Júri que Moa era um cara tranquilo e que a briga ocorreu logo depois que a vítima e o agressor começaram a falar sobre política.
“Moa sempre foi gente boa. Eu conhecia ele há 20 anos. Ela era tranquilo, até para falar. Falava baixo. Moa sempre ia lá. No dia do crime, ele chegou depois das 21h, sentou e, como não era muito de falar, ficou calado. Ele não falava com estranhos”, disse.
“Logo depois, chegou o rapaz [Paulo], e, depois de ver um adesivo do PT, questionou: ‘É, pelo visto vocês votaram no PT, né?’ Eu respondi que não, que não tinha nem título. Mas, se tivesse, votaria sim. Moa não falou nada. Continuou calado. Enquanto isso, ele [assassino] ficou dizendo que era para votar no Bolsonaro porque iria dar arma para todo mundo e matar os gays. Todo mundo ficou falando sobre política, menos Moa”, completou.
“Até que, em um momento, Moa foi no banheiro e, na volta, Nadinho [como é conhecido Reginaldo, um dos irmãos de Moa] falou a Moa que o acusado tinha votado em Bolsonaro. Moa então indagou: ‘Pô, votar num cara desse, preconceituoso e racista. Você é veado?’ Moa indagou isso calmo, sem ameaça. O homem então respondeu a ele: ‘Sou veado não'”, contou João Carlos.
“Todo mundo ficou ali e, um tempo depois, o homem foi embora. Então, eu comecei a arrumar as coisas. E Moa ficou para tomar mais uma [cerveja]. Daí, depois, só ouvi o barulho de mesa caindo, de confusão. Mas não sabia o que tinha acontecido. Até que vi Germinio [primo de Moa] sangrando, pedindo para se lavar”, disse o dono dor bar onde o crime ocorreu.
Esposa de Paulo
Taiane de Jesus Santos, companheira de Paulo há 10 anos, relatou o que ocorreu dentro de casa antes e depois de o marido esfaquear Moa. “Eu já estava com roupa de dormir. Ele [marido dela] entrou rapidamente e abriu o portão. A forma como ele entrou não foi comum. Fui ver o que foi e ele começou a gritar: ‘Eu não sou otário, eu não sou veado. Eu não sou otário, não sou veado’. Daí ele saiu e na volta já estava ensanguentado e foi direto para o banho”, contou.
“Ele estava diferente, atordoado. Quando você ouve uma coisa e fica na sua mente. Ele ficou o tempo todo dizendo que não era otário”, completou Taiane de Jesus Santos.
Após discutir com Moa no bar, Paulo voltou para casa, pegou uma faca e retornou ao bar. Ele esfaqueou Moa pelas costas. “O réu foi frio e cruel, de uma perversidade incrível, ele foi covarde. Ele saiu do local, teve tempo de premeditar o crime, foi em casa e pegou uma faca. Ele observou o melhor momento que poderia surpreender a vítima e a atacou pelas costas. Podemos caracterizar como um crime covarde, pois ele agiu covardemente”, disse o promotor do caso.
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