População vai às ruas em protesto histórico contra desemprego e pacote econômico do governo direitista na Colômbia. Partido do governo diz que manifestação é "estratégia do Foro de São Paulo"
Estudantes e trabalhadores colombianos fazem protestos nesta quinta-feira (21) contra a política econômica e social do presidente Iván Duque, da Colômbia.
A greve começou nas universidades públicas de Bogotá, Medellín e Cali. Em Medellín, uma multidão lotou as ruas em direção ao Parque de las Luces, onde se concentrarão.
Em Cali e em Barranquilla, o sistema de transporte público foi interrompido porque os manifestantes colocaram obstáculos nas ruas. À tarde, foi anunciado toque de recolher em Cali a partir das 19h locais por causa de “atos de vandalismo”.
Foram registrados incidentes em um bairro no noroeste de Bogotá entre o esquadrão policial anti-motim e manifestantes. Os protestos são os maiores que Duque já enfrentou. O governo fechou fronteiras e reforçou a vigilância aérea e militar.
Os atos foram motivados pela expectativa de que o governo altere algumas regras econômicas –aumente a idade mínima de aposentadoria, permita que se contrate jovens abaixo do salário mínimo e elimine um fundo de pensão estatal.
ONU
A ONU expressou sua preocupação pelo aumento de militares nas cidades da Colômbia antes da marcha.
“O escritório recebeu informes sobre um aumento da presença de membros do exército nas ruas de algumas cidades da Colômbia nos dias anteriores à manifestação”, indicou na quarta-feira (20) o escritório local de direitos humanos do organismo internacional em um comunicado.
O escritório das Nações Unidas também apontou “com preocupação” a expedição de “vários decretos, circulares e instruções” que permitem às autoridades locais declarar toques de recolher e contar com apoio militar em caso de problemas.
A organização chamou a atenção também para mensagens “de procedência não identificada” que “estigmatizam o protesto social” e outras que “chamam ao uso da violência” nas mobilizações.
Desde o fim de semana foram observados dezenas de militares nas ruas do centro de Bogotá, por onde costumam transitar os manifestantes, que através das redes sociais denunciam uma “militarização” para intimidar o protesto social.
Com sua popularidade em xeque, a convocação de greve nacional mede o poder de Duque, que não conseguiu consolidar uma coalizão no Congresso e cujo partido, o Centro Democrático, de direita, sofreu reveses nas eleições locais de outubro.
A grande greve foi convocada desde outubro pelo Comando Nacional Unitário, que une as principais centrais dos trabalhadores, diante de supostas iniciativas governamentais para flexibilizar o mercado de trabalho e enfraquecer o fundo de pensão do Estado em favor de fundos privados e aumentar a idade da aposentadoria.
Duque nega apresentar projetos legislativos para esses fins, embora os Ministros do Trabalho e Finanças tenham sido a favor de reformas nesse sentido.
“O protesto não tem outra intenção senão pressionar o governo, a classe dominante deste país, a responder aos problemas da classe trabalhadora”, disse à AFP Julio Roberto Gomez, presidente da Confederação Geral do Trabalho.
As centrais dos trabalhadores, que têm um poder de convocação mais fraco do que outras da região, foram acompanhadas por estudantes universitários que exigem mais recursos para a educação pública.
Os indígenas pedem proteção após o assassinato de mais de cinquenta membros da comunidade neste ano no problemático departamento de Cauca (sudoeste). A eles se juntam artistas e organizações sociais.
Os movimentos de protesto enfatizam seu repúdio à violência contra líderes sociais, que deixou 486 mortos entre 1 de janeiro de 2016 e 17 de maio de 2019, de acordo com a Defensoria Pública.
Duque afirma que está em andamento uma campanha para desencadear o ódio entre os colombianos: “Toda a sociedade tem que rejeitar vandalismo, saques, agressões, violência daqueles que muitas vezes querem pescar em águas turbulentas”.
“Foro de São Paulo”
O partido do governo, liderado pelo ex-presidente e senador Álvaro Uribe, diz que as mobilizações respondem a uma “estratégia do Foro de São Paulo”, que reúne organizações latino-americanas de esquerda para “desestabilizar” a democracia na região.
Desde que assumiu o cargo em agosto de 2018, Duque enfrentou várias manifestações de rua por suas propostas econômicas, por sua política de segurança focada no combate ao tráfico de drogas e por sua tentativa de modificar o acordo que desarmou as Farc.
Embora o governo preveja um PIB de 3,6% em 2019, a quarta economia latino-americana apresenta uma das mais altas taxas de desigualdade e desemprego da região.
AFP
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