Campanha de Bolsonaro omitiu gastos e foi mais cara do que o declarado por ele à Justiça. Dinheiro público foi utilizado, contrariando discurso do presidente
Reportagem da Folha de S.Paulo publicada na manhã desta terça-feira (26), a partir de centenas de notas fiscais que integram a prestação de contas eleitorais dos 27 diretórios estaduais do PSL, mostra que a campanha de Jair Bolsonaro em 2018 foi mais cara do que a declarada por ele à Justiça Eleitoral, além de ter sido financiada em parte por dinheiro público, o que ele sempre negou ter usado.
Os documentos revelam que ao menos R$ 420 mil – parte dele, recursos do fundo eleitoral – foram usados para a confecção de santinhos, adesivos, panfletos e outros materiais para a campanha de Bolsonaro, isoladamente ou em conjunto com outros candidatos do PSL, num total de cerca de de 10,8 milhões de unidades.
Apesar de entregar as notas fiscais à Justiça, os PSLs estaduais não vincularam o gasto apontado pelas notas fiscais analisadas diretamente à campanha de Bolsonaro e nem o presidente declarou, em sua prestação de contas, o recebimento dos santinhos. Esses R$ 420 mil equivalem a 17% de tudo o que Bolsonaro declarou à Justiça como gasto de sua campanha, R$ 2,46 milhões.
Ao proceder dessa forma, o gasto eleitoral que beneficiou o presidente aparece na prestação de contas apenas como gasto do PSL e a campanha de Bolsonaro aparenta custo menor do que o declarado.
“A ausência de declaração dos valores recebidos como doação estimável em dinheiro consubstancia irregularidade grave. No que tange ao partido, também ele deveria ter declarado a realização da doação estimável em dinheiro”, afirmou o advogado eleitoral Rafael Araripe Carneiros, consultado pela reportagem. “Irregularidade como essa pode impactar no julgamento das contas de campanha, podendo levar até a desaprovação das contas, com a exigência de devolução dos valores irregularmente recebidos”, completou.
O caso é mais que indica que a campanha eleitoral que levou Jair Bolsonaro ao poder foi cercada de ilegalidades, somando-se aos disparos em massa de mensagens pelo Whatsapp, financiadas com dinheiro não declarado de empresas.
Nem o Palácio do Planalto nem os diretórios estaduais do PSL procurados quiseram se manifestar. Bolsonaro e o PSL entraram nos últimos meses em uma crise, alastrada na esteira das denúncias sobre o esquema de candidaturas de laranjas nas eleições de 2018.
RBA
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook