Golpe na Bolívia está consumado e repercute mundialmente
Forças Armadas na Bolívia se unem à oposição e Evo Morales renuncia. Golpe está consumado. "Lamento muito este golpe. A luta não termina aqui", disse o presidente em comunicado oficial
O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou sua renúncia neste domingo (10). Morales havia anunciado pela manhã a convocação de novas eleições presidenciais no país, mas a oposição não aceitou disputar um novo pleito com a participação dele. “Lamento muito este golpe. A luta não termina aqui”, disse o presidente em comunicado oficial.
“Eu decidi, escutando meus companheiros, renunciar ao meu cargo da presidência”, afirmou Morales. “Por que tomei essa decisão? Para que Mesa e Camacho não sigam perseguindo meus irmãos dirigentes sindicais. Para que Mesa e Camacho não sigam queimando a casa dos governadores de Oruro e Chuquisaca”.
“O sistema capitalista não é uma solução para a humanidade”, disse também Morales em seu discurso de despedida do cargo.
O vice-presidente boliviano, Álvaro Garcia Linera, também renunciou e afirmou que “o golpe de Estado se consumou”. “Estamos renunciando para que não golpeiem mais nossa gente. Seguiremos lutando. Dedicamos nossa vida para defender os pobres e humildes e seguiremos lutando”, disse Linera.
Nesta tarde, as Forças Armadas e o comandante-geral da polícia se uniram aos opositores e pressionaram pela renúncia de Evo. O presidente boliviano corria risco de morte caso não entregasse o cargo.
Mais cedo, o líder da oposição Carlos Mesa, que ficou em segundo lugar na eleição de 20 de outubro, exigiu que Morales e seu vice-presidente se retirassem da nova eleição. “Nem devem presidir o processo eleitoral”, disse ele.
“Se você tem um pingo de patriotismo, deve se afastar”, disse Mesa em entrevista coletiva neste domingo.
A presidente do Senado da Bolívia, Adriana Salvatierra, também renunciou oficialmente ao cargo no início da noite deste domingo. Ela era a próxima na linha de sucessão. Como o presidente da Câmara também deixou o cargo, deve assumir a presidência do país o presidente do Tribunal Supremo.
“O golpe militar na Bolívia acontece, não por acaso, no momento em que a maré política virou e a esquerda ganhou eleições e as ruas em vários países vizinhos. É um perigoso precedente para a América Latina e tem que ser rechaçado por toda a comunidade internacional”, afirmou o coordenador do MTST Guilherme Boulos nas redes sociais.
“A renúncia de Evo Morales escancara o caráter anti-democrático da extrema direita. Evo ganhou nas urnas e assistiu seu poder ser tomado por um golpe. Esse é um dia lastimável para a América Latina”, disse o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS).
“O jornal argentino Clarín, um dos principais de seu país, afirmou hoje que o presidente Evo Morales abandonou a Bolívia e viajou para a Argentina no avião presidencial em meio a uma profunda crise política no país”, apontou reportagem publicada no Uol.
Lula
O ex-presidente Lula usou sua conta no Twitter para se manifestar sobre o golpe na Bolívia. “Acabo de saber que houve um golpe de estado na Bolívia e que o companheiro Evo Morales foi obrigado a renunciar. É lamentável que a América Latina tenha uma elite econômica que não saiba conviver com a democracia e com a inclusão social dos mais pobres”, disse Lula na rede social.
A ex-presidenta da Argentina Christina Kirchner adotou um tom de ironia e afirmou que “manifestações violentas sem nenhum tipo de limitação por parte das forças policiais incendeiam casas e sequestram pessoas enquanto as Forças Armadas ‘sugerem’ ao presidente indígena e popular Evo Morales que renuncie”. Ela também cobrou “ações claras em defesa da democracia, independentemente de qual seja a orientação política dos governos que surgem da vontade popular”.
O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, condenou o golpe. “A quebra institucional na Bolívia é inaceitável. O povo boliviano deve escolher o quanto antes, em eleições livres, seu próximo governo”, disse o peronista.
Fernández ainda disse que “nós, defensores da institucionalidade democrática, repudiamos a violência desatada que impediu que Evo Morales concluísse seu mandato presidencial”.
Segundo o argentino, “se consumou um golpe de Estado na Bolívia produto da ação conjunta de civis violentos, tropas policiais amotinadas e a passividade do Exército”. O mandatário eleito cobrou que “o compromisso da Argentina com a institucionalidade e contra qualquer forma de golpe de Estado no continente deve ser total”.
informações de RBA