América Latina

Indígenas são impedidos de enterrar seus mortos na Bolívia

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Retrato da repressão: indígenas não podem enterrar seus mortos na Bolívia e caixões ficam no meio da rua. “Não respeitam nem os mortos”.

Cortejo é reprimido pela polícia da Bolívia com bombas de gás e balas de borracha e caixões ficam no meio da rua (Reprodução)

Fernando Molina, El País

A polícia da Bolívia reprimiu com gás lacrimogêneo nesta quinta-feira (21) um cortejo que acompanhava os caixões de cinco das oito pessoas mortas na última terça-feira em uma manifestação.

O cortejo chegava a La Paz de El Alto com o objetivo de denunciar na capital as mortes e desmentir que as vítimas pertenciam a grupos armados como assegurava o Governo interino de Jeanine Áñez. “Não respeitam nem os mortos”, se escutava entre os grupos de manifestantes que permaneciam pelo centro da capital boliviana depois da atuação policial.

Os participantes do ato afirmavam que o Governo está consumando um “massacre” no país e criticavam também a imprensa, chamada por eles de “vendida”. A maioria dos jornais, asseguravam, qualificaram a violência na Bolívia como “confrontos” ou “atos terroristas”, enquanto a emissora Telesur, que defende a posição do ex-presidente Evo Morales de que sua saída do cargo ocorreu por um golpe de Estado, foi eliminada do serviço de cabo estatal.

“Não sou masista [militante do MAS, o partido de Morales], nem terrorista”, gritavam os manifestantes, que carregavam centenas de wiphalas, a bandeira indígena que identifica os opositores ao Governo de Áñez. Um dos cartazes afirmava: “Não somos um bando de delinquentes, somos o povo”.

O Instituto de Investigações Forenses, que pertence ao Ministério Público, informou que os oito mortos foram alvejados por disparos de armas de fogo “não regulamentares”, respaldando o ministro de Defesa, Fernando López, que assegurou que os efetivos militares que reprimiram a manifestação “não dispararam”. O Governo afirma que os manifestantes de El Alto, segunda maior cidade da Bolívia, queriam fazer um “atentado terrorista” ao se aproximar de depósitos de uma empresa que armazena gasolina e gás.

Após os acontecimentos, os múltiplos bloqueios das entradas a La Paz por parte de indígenas e camponeses aumentaram. Dentro da cidade, a gasolina está racionada e há carência de vários produtos. Os caminhões do município não podem recolher o lixo, que se acumula nos cantos.

Enquanto isso, na Assembleia Legislativa continua tramitando uma lei que busca convocar eleições para dar uma saída política à crise boliviana, que nesta quinta-feira cumpre em um mês. O MAS participa do debate parlamentar e prefere eleições em janeiro, enquanto os parlamentares ligados ao atual Governo as quer em março.

VÍDEO:

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