Exame pericial constatou que havia esperma na roupa da jovem e que o material era compatível com o DNA do empresário. Antes do exame, o homem havia afirmado à polícia que não havia tido qualquer contato físico com a vítima. Local do crime é frequentado pelas pessoas mais ricas do Brasil
André de Camargo Aranha, de 42 anos, é acusado de estuprar a jovem Mariana Ferrer no dia 15 de dezembro de 2018. A Polícia Civil indiciou o homem com base em provas testemunhais e periciais, confronto de material genético e contradições em depoimentos.
André é empresário influente que atua na área de marketing esportivo. Desde a divulgação do caso — que corre em segredo de Justiça –, o homem apagou todos os perfis nas redes sociais.
A única foto que resta dele na internet é a que está anexada ao processo (ver acima), em preto e branco, com data de 2014. Seu antigo perfil no Instagram seria @andre11spyder, conta que já foi marcada em publicações do ex-jogador Ronaldo ‘Fenômeno’, em viagens.
Mariana Ferrer tinha 21 anos no dia em que foi estuprada, no final do ano passado. O crime aconteceu no beach club Cafe de La Musique, em Jurerê Internacional, Florianópolis (SC). O local é frequentado pelas pessoas mais ricas do Brasil.
Um mandado de prisão temporária contra o empresário chegou a ser decretado pela 3ª Vara Criminal, mas acabou sendo derrubado pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça com base em habeas corpus impetrado pela defesa de André.
Luciane Borges, mãe de Mariana Ferrer, diz que a filha está com sequelas irreversíveis. As duas pedem Justiça. “O estupro é muito isolador. Não bastasse o crime em si, ainda há a injustiça e a insensibilidade das pessoas que não sabem o quão devastador é esse crime”, disse a mãe em recente entrevista ao portal Universa.
No dia do crime, Mariana estava trabalhando em uma festa do Cafe de La Musique — o clube tem outras 13 unidades no país, em locais badalados como Búzios (RJ) e Campos do Jordão (SP). A jovem atuava como embaixadora da casa, pessoa paga para divulgar o estabelecimento em redes sociais e comparecer aos eventos.
Após um exame pericial, foi constatado que havia esperma na roupa da jovem e que o material era compatível com o DNA de André de Camargo Aranha. Antes do exame, porém, o empresário paulistano havia afirmado à polícia que não havia tido qualquer contato físico com a jovem.
André havia se negado a fazer o exame de DNA, mas a delegada do caso na época, Caroline Monavique Pedreira, usou o material genético de um copo de água usado pelo empresário durante depoimento na polícia.
Pesadelo
Quando Mariana chegou em casa na noite do estupro, Luciane Borges se apavorou. A jovem estava visivelmente abalada e, no momento em que foi dar banho nela, viu que sua calcinha estava manchada de sangue.
Mariana foi dopada enquanto trabalhava e levada pelo empresário para uma área reservada. Aranha foi reconhecido no vídeo cedido pelo Cafe de La Musique em que um homem aparece subindo as escadas de um camarote com Mariana na noite do dia 15. Duas testemunhas ouvidas afirmam que se trata do empresário.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, Aranha estava ciente de que Mariana era incapaz de oferecer resistência e, após ela consumir uma substância que alterou seu discernimento, foi conduzida ao camarote número 403, no segundo piso do estabelecimento, em uma área usada como camarim, apenas por funcionários e colaboradores, e de acesso restrito ao público.
A mãe e a advogada de Mariana afirmam ter recebido denúncias de outras mulheres que passaram por situação similar à da jovem, relatando também terem sofrido violência sexual dentro do Cafe de La Musique. A advogada pretende anexar esses depoimentos ao processo e apresentá-los à Justiça.
“É um local que engana a todos, com uma falsa propaganda de um lugar saudável, seguro. Recebemos inúmeros depoimentos de vítimas desse local. As bebidas são batizadas e também têm pessoas que se prestam ao papel de dopar meninas escolhidas pelos estupradores”, diz Luciane. “Fica bem claro pelos depoimentos insustentáveis de todos que querem esconder o crime.”
Morosidade do caso
O registro da ocorrência de estupro foi feito em uma delegacia de Florianópolis no dia 16 de dezembro de 2018. Cinco meses depois, em maio, o caso não havia caminhado.
Quase um ano depois, o desfecho do caso parece distante. As próximas audiências estão marcadas para os dias 4 e 6 de fevereiro de 2020.
Sobre a morosidade do caso, o TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) limitou-se a dizer que “a instrução do processo segue em curso” e que “não há data para julgamento”.
“Infelizmente, somos caladas por um falso sigilo que diz proteger a vítima”, afirma Luciane. “Na prática, só protege o estuprador e o estabelecimento. É uma monstruosidade”, diz.
Desacredita na Justiça, Mariana Ferrer tomou a difícil decisão de se expor e denunciar o caso no Instagram. “Em alguns momentos raros vejo minha filha tentando renascer, quando ouve música, ri um pouco comigo, com a irmã e a gatinha. Não consegue confiar em ninguém, se apegou muito mais a mim. Além dos tratamentos médicos, a Justiça é o que mais poderá fazer com que ela possa recomeçar a vida. Evidentemente, nunca mais será como antes”, desabafa a mãe.
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