por Alexandre De Oliveira Périgo, via Facebook
Em dois mil e três, Antonio Augusto Liberato promoveu em seu popular programa televisivo uma das maiores fraudes midiáticas da história do Brasil quando simulou mal e porcamente uma “entrevista” com membros do PCC.
Na matéria, tremendamente rudimentar e conduzida por atores péssimos que forçavam à beira do ridículo um linguajar de presídio, apareceram ameaças de morte a personalidades famosas, a apresentadores de TV de outras emissoras e até ao então vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo.
O crime foi facilmente desbaratado e o apresentador permaneceu em covarde silêncio por duas semanas. Só depois que seu patrão Silvio Santos fez valer os privilégios que todo bilionário possui de poder posicionar-se acima do bem e do mal, isentando seu SBT de qualquer culpa no caso, é que Liberato apresentou um pedido de desculpas.
E foram tergiversações muito bem ensaiadas, apresentadas no programa de sua colega Hebe Camargo, de modo maquiavelicamente conveniente: o caso foi transformado por ambos num “grande mal entendido” enquanto, simultaneamente, catapultavam a audiência da própria emissora. Conheço poucos exemplos maiores de fazer valer a máxima burguesa: “se possível for, lucremos com a própria canalhice”.
A torpeza de Liberato não havia começado com a farsa do PCC; bem antes disso, o vigarista já amealhava picos estratosféricos de audiência — e consequentes recordes de verbas de patrocínio — objetificando mulheres ao colocá-las seminuas em banheiras nas tardes de domingo, como se fossem pedaços de carne marinando em molho machista.
É imersa nessa realidade, onde um menino preto e pobre ao roubar um par de tênis é considerado caso perdido, enquanto farsantes usam impunemente uma concessão pública para lucrar com mentiras, que boa parte do campo progressista nacional se “solidariza” com a “perda desse ícone da TV brasileira”.
A ironia é que, quem ousa levantar tais fatos é prontamente acusado pela esquerda-namastê, que usa camisetas do Che só para combinar com o resto da vestimenta, de “parecer com bolsominions”, de “comemorar a morte de um ser humano” e de ter sido “tomado pelo ódio, igualzinho a direita”.
Não é por acaso que a elite e a mais truculenta horda conservadora pisam em nosso povo e cospem em nossos ideais sem nenhuma espécie de retaliação efetiva para além de manifestações cirandeiras na avenida paulista, regadas a bandeirinhas vermelhas pacifistas e gritos de ordem fofinhos.
Ou entendemos a urgência do enfrentamento real com aqueles que nos destroem ou seguiremos nos solidarizando com a perda de Liberatos em suas mansões no exterior, maiores que um campo de futebol — porque as duas coisas não são possíveis simultaneamente.
Nessa vida ou se é Sobel ou se é Gugu.
Escolham.
(na imagem, de autor desconhecido, aparece um dos programas dominicais de Liberato; percebam toda a descarada mensagem semiótica: as pessoas vestidas ao fundo mostram um certo constrangimento conivente com toda a cena, já os próximos “participantes” ao lado da banheira sorriem vislumbrando a lucrativa visibilidade que terão. O casal dentro da água está concentrado na “ação” – um deles, inclusive, foi recentemente eleito deputado federal pela sigla mais conservadora do país – enquanto o apresentador sorri com o sucesso da “atração”. Notem que ele traja terno e gravata, de modo a se distanciar moralmente daquela “baixaria”. É como se, de dentro de sua vestimenta, gritasse silenciosamente: “eu acho isso o fim do mundo, mas já que vocês gostam de putaria, pronto, tomem aí, seus ignorantes”)
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“Tivemos uma infância feliz! Éramos crianças de bem assistindo mulheres e homens semi-nus se pegando na banheira do Gugu,Carla Perez dançado na boquinha da garrafa,aí veio o PT,E destruiu a família!” — Ricardo Alves
“Na foto ilustrativa, curiosamente, um dos protagonistas é um atual deputado federal. O que simbolicamente pode dizer muito sobre como este país chegou ao estado em que se encontra” — Jorge Malcher
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Pragmatismo Político
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