O governo que vociferou contra a velha política é o mesmo que retira dinheiro de creches e entrega a parlamentares
Denis Castilho*, Pragmatismo Político
O lucro dos quatro maiores bancos do país (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander) bateu recorde neste ano com aumento de 21,3%, alcançando R$ 20,4 bilhões, o maior lucro já registrado por essas instituições historicamente, conforme pesquisa da empresa Economatica (2019). No terceiro trimestre, apenas o Itaú Unibanco registrou lucro líquido recorrente de R$ 7,15 bilhões.
Enquanto isso, pesquisa divulgada pelo IBGE no último mês de outubro, revela que o rendimento médio mensal da população 1% mais rica foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre. A pesquisa também mostra que houve aumento de 8,4% na renda da população mais rica e queda nos ganhos dos 30% mais pobres.
Metade dos brasileiros vive, em média, com apenas 413 reais mensais e mais de 10 milhões de pessoas com míseros 51 reais ao mês (IBGE, 2019). Isso significa que a desigualdade aumentou de maneira drástica no Brasil.
O índice de GINI, que mede a concentração de renda, já é o maior no país desde 2012. Mas pode piorar.
Os mesmos ministros que costumam dizer que serviços como saúde e educação oneram o Estado, no outro dia anunciam recursos bilionários para financiar concessões a juros baixos e ainda fazem vista grossa à sonegação de impostos que já ultrapassou a marca dos R$ 530 bilhões apenas neste ano, segundo o portal Quanto Custa o Brasil (2019). Não é demais lembrar que essa sonegação é praticada sobretudo por grandes empresas.
O governo que vociferou contra a velha política, é o mesmo que retira dinheiro de creches e entrega a parlamentares.
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Não há recurso para as crianças pobres e desassistidas, mas há para parlamentares, para bancos e para um verdadeiro sistema de pilhagem via transferência de ativos, bastando citar o projeto de lei assinado nessa terça-feira (dia 5 de nov) que autoriza a entrega da Eletrobras a preço de banana e ainda retira da União o poder de veto em decisões estratégicas.
Eis a receita explosiva: amparo sistêmico e Estado máximo aos bancos e corporações; retirada de direitos e Estado mínimo aos trabalhadores e aposentados de baixa renda.
Sim, as reformas neoliberais retiram de você, trabalhador assalariado, pessoa simples, e empurra aos bancos. Corta recursos de serviços básicos, como a educação pública, espolia setores estratégicos e entrega às corporações.
É essa a receita suicida e autodestrutiva que muitos apoiam sem saber no que vai dar. Os ingredientes já estão carregados de demência, estupidez e alucinação. Pena que do outro lado, não muito longe, reina a vaidade, a discórdia e o acaso.
Não tem volta, vai explodir.
Referências:
ECONOMATICA. Lucro consolidado dos 4 maiores bancos brasileiros atinge seu maior valor. Disponível em:https://insight.economatica.com/lucro-consolidado-dos-quatro-maiores-bancos-brasileiros/ (Acesso: 5 nov. 2019).
FLACH, Natália. Lucro do Itaú sobe 11% para R$ 7,15 bilhões no terceiro trimestre. Exame, 4 nov. 2019. Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/lucro-do-itau-sobe-11-para-r-72-bilhoes-no-terceiro-tri/ (Acesso: 5 nov. 2019).
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Renda do trabalho do 1% mais rico é 34 vezes maior que da metade mais pobre. Agência IBGE Notícias, 16 ago. 2019. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/25702-renda-do-trabalho-do-1-mais-rico-e-34-vezes-maior-que-da-metade-mais-pobre (Acesso: 5 nov. 2019).
QUANTO CUSTA O BRASIL. Sonegômetro. Disponível em: http://www.quantocustaobrasil.com.br/ (Acesso: 5 nov. 2019).
*Denis Castilho é doutor em geografia e professor do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás.
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