Brasileiro demitido do Inpe por divulgar dados do desmatamento da Amazônia integra lista dos dez cientistas do ano da renomada revista científica Nature
O ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) Ricardo Galvão foi escolhido como um dos dez cientistas do ano pela revista científica Nature.
O físico foi exonerado do cargo no Inpe em agosto, após protagonizar um embate com o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) sobre dados do desmatamento da floresta amazônica.
Os outros nove nomes que serão homenageados no “Nature’s 10”, premiação anual para os destaques na ciência, serão divulgada na terça-feira que vem (13) pela revista.
“Fui procurado pela Nature há mais de três semanas para uma longa entrevista. Essa lista geralmente é feita com personalidades que possuem publicações com resultados científicos relevantes. Eles consideraram importante a minha posição de defesa da ciência perante a comunidade internacional em um momento de obscurantismo”, disse Galvão.
Galvão ocupava o cargo de diretor do Inpe desde 2016. Ele ganhou holofote internacional depois de responder às acusações sem prova do presidente Jair Bolsonaro, que disse que dados do Inpe que apontavam para um pico de desmatamento em julho eram mentirosos e acusou Galvão de estar “a serviço de alguma ONG”.
O cientista foi demitido depois de rebater críticas de Bolsonaro aos dados do instituto, que registraram um aumento de 88% nos alertas de desmatamento na Amazônia.
Ricardo Galvão estava no Inpe desde 1970. Ele, que dirigiu o órgão por três anos, desde 2016, teria um mandato à frente do Inpe até 2020. Galvão fez doutorado em Física de Plasmas Aplicada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e é livre-docente em Física Experimental na USP desde 1983. Depois de sair da direção do Inpe, voltou pra USP, para o Instituto de Estudos Avançados.
Após a exoneração, Galvão começou a dar palestras e participar de eventos no Brasil e no exterior. Em meados de agosto, ao voltar para a USP, Galvão deu um depoimento emocionado.
“Sempre que a ciência for atacada temos de nos levantar. As autoridades sempre se incomodam quando escutam o que não querem”, disse. “Mas será que esse seria um momento de volta às trevas?”, questionou em referência à ditadura. Ele mesmo sentenciou: “Não. Porque a comunidade acadêmica e científica e o povo brasileiro não se calarão.”
com agências
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