Filha de general pede vingança em encontro com presidente do Irã. Milhares vão a funeral. Líder supremo fala em "retaliação severa" e base aérea dos EUA e embaixada são atingidas por foguetes
As autoridades do Iraque informaram neste sábado (4) que três foguetes atingiram a Zona Verde, região da cidade de Bagdá onde ficam prédios do governo do país como o parlamento, ministérios, e também o de algumas representações internacionais, como a embaixada dos Estados Unidos. O foguete caiu dentro da Praça da Celebração da Zona Verde. A informação foi divulgada pelas agências EFE, AFP e Reuters.
Perto da base aérea do Iraque em Balad, que abriga as forças americanas, um outro ataque foi registrado, dessa vez com dois foguetes Katyusah. Fontes de segurança disseram que não houve vítimas. Hoje, o governo americano já havia decidido suspender os treinamentos militares dos soldados americanos da Otan que estão em Bagdá.
Milhares de pessoas foram às ruas de Bagdá hoje para acompanhar o funeral dos generais Abu Mahdi al-Muhandis e Qassim Suleimani, do Irã, ambos mortos em um ataque aéreo comandado pelos EUA na última quinta-feira (2). Manifestantes acompanharam o funeral carregando bandeiras e faixas com as fotos dos generais gritando “Morte a América”.
Vingança
A filha do general iraniano Qassim Suleimani, que liderava a força Al-Quds dos Guardiões da Revolução, pediu ao presidente do Irã que vingue a morte de seu pai.
Durante a visita hoje do presidente iraniano Hassan Rouhani e do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, a filha do general questionou “quem vai vingar a morte” de seu pai. “Todo mundo vai se vingar”, Rouhani respondeu a ela.
O presidente afirmou anteriormente que os Estados Unidos vão “enfrentar as consequências desse ato criminoso não apenas hoje, mas também nos próximos anos”.
3ª Guerra Mundial?
As especulações sobre uma possível 3ª Guerra Mundial são inevitáveis após a recente crise entre Irã e EUA. Professor de Relações Internacionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Paulo Velasco classificou como “exagero, com um quê de paranoia”, a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Ele justificou seu argumento citando que as demais potências militares do mundo não devem se envolver na situação.
A opinião é partilhada por Manuel da Furriela, professor de Relações Internacionais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), que é categórico em dizer que uma Terceira Guerra Mundial “não vai ocorrer”. O especialista explica que o Irã é uma potência regional no Oriente Médio, mas sem expressão global.
“A Primeira e a Segunda Guerra [Mundial] ocorreram na Europa, onde estavam as principais potências, com participação da União Soviética, Estados Unidos, China e Japão. Não vai ter guerra agora porque um conflito com o Irã não teria essa dimensão internacional”.
Velasco acredita que a Rússia vai atuar na questão como um ator que impõe limite, uma linha vermelha para as ações americanas. O ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, condenou os ataques. Mas o especialista também não vê Moscou com uma reação que vá além do diálogo.
Em relação a China, o professor avalia que há ainda menos interesse em se envolver. Embora o desenvolvimento econômico tenha transformado o país num grande consumidor de matérias-primas de várias partes do mundo, a presença militar na região é pequena. Limita-se a uma base no Djibouti, país situado no Chifre da África.
Já a União Europeia costurou o acordo entre Barack Obama, ex-presidente dos EUA, e o Irã para frear o programa nuclear dos iranianos e deve atuar para pedir calma. Líderes de França, Inglaterra e Alemanha já se manifestaram pedindo calma e diálogo.
Qassim Suleimani
Qassim Suleimani era o segundo homem mais poderoso do Irã, considerado um herói nacional e comandava a Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária Iraniana.
O professor de Relações Internacionais da UERJ considera três locais como alvos potenciais de Teerã: Iraque, Israel e Arábia Saudita. “O primeiro e mais óbvio é dentro do próprio Iraque. Atacar posições americanas no Iraque. Há 5 mil soldados no país e mais 3 mil serão enviados [ao Oriente Médio]”, diz Velasco. “Junto aos soldados há todo poderio americano no Golfo Pérsico. Depois, o Irã pode tentar atacar aliados dos Estados Unidos numa agressão indireta, assim Israel e Arábia Saudita se tornam alvo.”
Donald Trump
Donald Trump publicou, nesta sexta-feira (3), um texto em uma rede social em referência ao ataque dos Estados Unidos que matou o general iraniano Qassem Soleimani. “O Irã nunca ganhou uma guerra, mas nunca perdeu uma negociação”, escreveu o presidente dos Estados Unidos, sugerindo que não tem medo de retaliações.
Esses textos são a segunda manifestação de Trump desde o ataque no aeroporto de Bagdá, no Iraque: antes, ele havia publicado uma bandeira dos EUA. O exército americano informou que o bombardeio tinha, de fato, a missão de matar o general iraniano e partiu de uma ordem do presidente Trump.
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