O Irã prometeu uma retaliação depois que seu comandante militar mais poderoso foi morto. Mas teria o país capacidade para atingir os EUA? Confira o que diz o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos
BBC Mundo
O Irã prometeu uma retaliação depois que seu comandante militar mais poderoso foi morto em um ataque aéreo dos Estados Unidos no aeroporto de Bagdá (Iraque), na quinta-feira (2/1).
“Vingança severa aguarda” aqueles por trás do ataque ao general Qasem Soleimani, disse o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Neste sábado, uma multidão se reuniu em Bagdá em uma procissão fúnebre para Soleimani, antes de seu corpo retornar ao Irã.
Estima-se que existam 523 mil iranianos em uma série de funções militares, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um centro de estudos britânico.
Isso inclui 350 mil no Exército regular e pelo menos 150 mil na Guarda Revolucionária iraniana. Força Aérea e Marinha não são braços separados, como no Brasil e em outros países. No Irã, estão subordinadas ao Exército.
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Há mais 20 mil oficiais em serviço nas forças navais da Guarda. Esse grupo opera vários barcos-patrulha armados no Estreito de Ormuz, local de vários confrontos envolvendo navios-tanque de bandeira estrangeira em 2019.
A Guarda Revolucionária iraniana também controla a unidade Basij, uma força voluntária de repressão à dissidência interna. Essa unidade pode potencialmente mobilizar muitas centenas de milhares de pessoas.
A Guarda foi criada há 40 anos para defender o regime islâmico no Irã e se tornou uma importante força militar, política e econômica por si só.
Apesar de ter menos tropas do que o Exército regular, a Guarda é considerada a força militar de maior autoridade no Irã.
Operações no exterior
A Força Quds, que era liderada pelo general Soleimani, conduz operações secretas no exterior para a Guarda Revolucionária iraniana e reporta diretamente ao aiatolá Ali Khamenei. Acredita-se que ela seja formada por cerca de 5 mil homens.
A unidade foi enviada à Síria, onde orientou elementos militares leais ao presidente sírio Bashar al-Assad e milícias xiitas armadas que lutavam ao seu lado. No Iraque, apoiou uma força paramilitar dominada pelos xiitas que ajudou a derrotar uma parte do grupo autodenominado Estado Islâmico (que é um grupo jihadista sunita).
No entanto, os EUA afirmam que a Força Quds tem um papel mais amplo, fornecendo financiamento, treinamento, armas e equipamentos para organizações que Washington designou como grupos terroristas no Oriente Médio. Esses incluem o movimento Hezbollah, do Líbano, e a Jihad Islâmica, da Palestina.
Problemas econômicos e sanções internacionais prejudicaram as importações de armas do Irã, que são relativamente pequenas em comparação com as de outros países da região.
O valor das importações de defesa do Irã entre 2009 e 2018 foi equivalente a apenas 3,5% das importações da Arábia Saudita no mesmo período, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, de Estocolmo.
A maioria das importações iranianas vem da Rússia e o restante da China.
Mísseis
Sim — as capacidades de mísseis do Irã são a peça-chave de suas proezas militares, dada a relativa falta de poder aéreo em comparação com rivais como Israel e Arábia Saudita.
Um relatório do Departamento de Defesa americano descreve as forças dos mísseis do país como as maiores do Oriente Médio, compreendendo principalmente mísseis de curto e médio alcance.
Ele também diz que o Irã está testando uma tecnologia espacial para permitir o desenvolvimento de mísseis intercontinentais, que podem viajar muito mais longe.
No entanto, o programa de mísseis de longo alcance foi paralisado pelo Irã como parte de seu acordo nuclear de 2015 com países estrangeiros, segundo o gabinete estratégico do Royal United Services Institute (Rusi). O projeto, porém, pode ter sido retomado, dada a incerteza em torno desse acordo.
De qualquer forma, muitos alvos na Arábia Saudita e no Golfo estariam ao alcance dos atuais mísseis de curto e médio alcance do Irã, e possivelmente alvos em Israel — aliado americano.
Em maio de 2019, os EUA ampliaram a instalação de sistemas de defesa antimíssil Patriot no Oriente Médio, à medida em que as tensões com o Irã aumentavam. Esse sistema é capaz de combater mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e aeronaves avançadas.
Armas convencionais
Apesar de viver anos sob sanções, o Irã também conseguiu desenvolver seus recursos para operar drones.
No Iraque, os drones iranianos são usados desde 2016 na luta contra o Estado Islâmico. O Irã também entrou no espaço aéreo israelense com drones armados operados a partir de bases na Síria, segundo o Rusi.
Em junho de 2019, o Irã abateu um drone de vigilância dos Estados Unidos, alegando ter violado o espaço aéreo iraniano sobre o Estreito de Ormuz.
Outro aspecto do programa de drones do Irã é sua disposição de vender ou transferir sua tecnologia de drones para seus aliados e representantes na região, diz Jonathan Marcus, analista de defesa e diplomacia da BBC.
Em 2019, ataques com drones e mísseis danificaram duas importantes instalações petrolíferas sauditas. Tanto os EUA quanto a Arábia Saudita vincularam esses ataques ao Irã, embora Teerã tenha negado qualquer envolvimento e apontado para uma reivindicação de responsabilidade dos rebeldes no Iêmen.
Capacidade cibernética
Após um grande ataque cibernético em 2010 às instalações nucleares iranianas, o Irã aumentou sua capacidade na área.
Acredita-se que o Corpo Revolucionário da Guarda Islâmica (IRGC, por sua sigla em inglês) tenha seu próprio comando cibernético, trabalhando em espionagem comercial e militar.
Um relatório militar dos EUA em 2019 apontou que o Irã tem como alvo empresas aeroespaciais, empresas de defesa, empresas de energia e recursos naturais e empresas de telecomunicações para operações de espionagem cibernética em todo o mundo.
Também em 2019, a Microsoft disse que um grupo de hackers “originário do Irã e vinculado ao governo iraniano” teve como alvo uma campanha presidencial dos EUA e tentou invadir as contas de funcionários do governo americano.
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