Milionário por trás do partido de Jair Bolsonaro levanta suspeitas
O que faz um milionário que vivia na Inglaterra nos últimos anos decidir retornar e exercer a ‘vida pública’? Um surto de patriotismo? Felipe Belmonte já é o número 3 na hierarquia do 'Aliança Pelo Brasil'
Mauro Donato, DCM
Até cerca de 2 anos atrás, Luís Felipe Belmonte vivia sua vida de milionário com a esposa e filhos na Inglaterra.
De lá, gerenciava seus negócios no Brasil, entre eles um time de futebol, o Real Brasíllia.
Ao perceber as nuvens do bolsonarismo formando-se sobre o céu do Brasil e sentindo aquele aroma de oportunidades no ar, em 2018 Felipe Belmonte pegou as malas e a esposa e voltou.
Projeto: entrarem, ambos, na política. Já de cara conseguiram eleger Paula, a esposa Belmonte, como deputada federal. Ele filiou-se ao PSDB e bancou a campanha de Izalci Lucas, o gênio do Escola Sem Partido.
Felipe Belmonte então aproximou-se ainda mais dos Bolsonaro e desde o ano passado é um dos principais nomes por trás da criação do Aliança pelo Brasil.
Ele hoje é o número três na hierarquia do Aliança, atrás apenas de Jair Bolsonaro e do filho Flavio, o homem das rachadinhas de chocolate. Como é advogado, Belmonte ocupa hoje um papel que já foi de Gustavo Bebianno. Que sirva de aviso.
Mas voltemos ao que interessa. O que faz um milionário que vivia na Inglaterra nos últimos anos decidir retornar e exercer a ‘vida pública’? Um surto de patriotismo?
As atitudes do empresário Belmonte e seus posicionamentos em relação a alguns aspectos da política, do Aliança, e regras eleitorais ajudam o leitor a formular a resposta.
Felipe Belmonte é a favor da volta do financiamento privado em campanhas eleitorais. Caso clássico de quem tem dinheiro para comprar a tudo e a todos (patrimônio declarado de R$ 65,8 milhões), ele contorna essa questão com um discurso revestido de retidão.
“É preciso estabelecer que cada doador só pode doar para um candidato, de mesma base eleitoral. Não dá para apostar em dez e, quem ganhar, é com aquele estou, entende?”, declarou ele em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira.
Curioso é que o próprio Belmonte não segue seus preceitos. No ano passado ele injetou quase R$ 4 milhões em candidatos os mais variados. Até do PCdoB!! Ele foi o segundo maior doador na campanha em Brasília.
Bolsonarismo explícito é isso, vende uma imagem e pratica o oposto.
Como empresário/advogado Belmonte também tem esqueletos no armário a serem explicados. O Ministério Público Federal o denunciou sob acusação de pagar propina a um ex-desembargador do Tribunal Regional do Trabalho em Rondônia.
Segundo a acusação, Belmonte conseguiu liberar um pagamento de R$ 107 milhões de um processo trabalhista, relacionado a um precatório da União.
Em poucas palavras o caso é o seguinte: o desembargador Vulmar de Araújo Coelho Junior havia suspendido o pagamento do precatório. Estranhamente, após atuação do escritório de advocacia de Belmonte, o desembargador reviu a própria decisão e liberou que a União pagasse. O escritório de Belmonte faturou R$ 11 milhões do precatório e logo depois, ainda segundo a denúncia, Belmonte usou um laranja para comprar um imóvel do desembargador.
A denúncia foi apresentada em maio de 2017 pela Procuradoria-Geral da República, o Ministério Público Federal ratificou os termos da denúncia, mas ainda não houve abertura de ação penal. Portanto, até agora Belmonte não é réu no caso.
A relação advocacia/imóveis/União faz parte do universo nababesco de Belmonte.
O escritório Luís Felipe Belmonte e Advogados Associados é especializado em processos contra a União que chegam ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ou seja, seu combatente habitual é a Advocacia-Geral da União (AGU).
Como proprietário de imóveis, Belmonte possui, entre outros, os prédios da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) em Brasília. Só com os aluguéis desses dois bens, o empresário tem uma renda mensal de R$ 769 mil (segundo reportagem da Veja). Dá pra viver tranquilamente na Inglaterra ou em qualquer lugar do planeta.
E onde entra a esposa, Paula Belmonte, nisso tudo?
Ela entrou para a política em 2018 e já se elegeu deputada federal em sua primeira participação. O que o dinheiro não faz, não é mesmo?
Paula passou o ano de 2018 envolvida com a CPI do BNDES. Chegou a viajar para Washington para fazer ruído com a suposta ‘utilização do banco de desenvolvimento para comprar companhias americanas durante os governos Lula e Dilma’.
Como a auditoria já revelou que não houve irregularidade nenhuma no BNDES, Paula agora volta a se submeter aos americanos e está à disposição para oferecer informações sobre o programa Mais Médicos e também investimentos que o Brasil tenha feito em Cuba.
Seu comportamento em Brasília é digno de uma dondoca.
Ainda no ano passado, Paula chegou atrasada em uma cerimônia do governo do DF e do Ministério da Cidadania. Por ter perdido um lugar entre as autoridades presentes, fez um barraco à la Big Brother, chegando a puxar pelo braço – e aos berros – a primeira-dama, Mayara Noronha.
O governador Ibaneis Rocha interveio: “Não aceito meninice de dondoca”.
Paula é do Cidadania e Felipe Belmonte é ex-PSDB. Os planos do casal são grandes. Pra já, a estratégia é tornar governador um dos dois em 2022. Mesmo que na cédula o nome conste como Izalci Lucas, não se engane.
Até lá saberemos se o partido que terá como número de legenda o 38 estará de pé. Depois disso, segura o casal.