PM agride e se ajoelha em barriga de gestante em São Paulo. Desesperada, ela grita: “Eu estou grávida”. A cena foi registrada em imagens. Governador João Doria comentou o episódio, fez acusação leviana contra a mulher e depois se corrigiu
Arthur Stabile, Ponte Jornalismo
Um policial militar apoia o joelho na barriga enquanto aborda uma mulher caída e tenta imobilizá-la no chão. Desesperada, ela grita: “Eu estou grávida”. Ela e quem registra a cena pedem para ele sair de cima da barriga.
As imagens foram registradas no bairro Santo Antônio, na cidade de São José do Rio Preto, interior do estado de São Paulo, às 10h desta terça-feira (4/2).
No vídeo é possível ouvir o policial dizendo que a mulher está presa por desacato e resistência. “Eu não vou correr, seu idiota. Eu estou grávida. Está achando que eu sou traficante? Estou [[não] resistindo a você me enforcando”, ela rebate.
A pessoa que registra as imagens se indigna. “Olha aí como ela está ficando roxa, ela está grávida. Solta ela, pelo amor de Deus”, grita a testemunha para o policial, que não para de apoiar o joelho na barriga da grávida enquanto a imobiliza.
De acordo com a versão oficial contada pelos soldados Wesley Viana dos Santos e Cleriston Braga dos Santos, conforme documentos da polícia civil, eles abordavam duas pessoas suspeitas de tráfico quando a mulher teria os ofendido de “vermes” e “filhos da puta”. Quando Viana iria abordá-la, conta, ela deu um soco em seu peito. O que segue é visto no vídeo.
Os documentos da Polícia Civil detalham que outra viatura da PM deu apoio à ação e encaminhou a mulher inicialmente para uma unidade da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e depois para o Hospital da Criança para realização de exames.
Segundo a Corregedoria da PM, o policial será afastado dos trabalhos de rua. Assim, fará serviços administrativos, com manutenção do salário, enquanto ocorrer a investigação do caso, inicialmente feita pelo batalhão no qual ele trabalha.
João Doria acusa grávida
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acusou a mulher grávida de ter sido presa por tráfico de drogas. Essa acusação nem os policiais militares que a prenderam e nem a Polícia Civil fizeram.
Em mensagem publicada no Twitter, Doria deu explicações sobre a ação ocorrida nesta manhã. Primeiro, disse que recomendou o “imediato afastamento” do PM que a agrediu — o que foi confirmado pela Secretaria da Segurança Pública.
No mesmo post o governador atribuiu à mulher um crime pelo qual ela não responde. “Apesar dela ter resistido a prisão por tráfico de drogas, existe protocolo a ser cumprido e as imagens indicam conduta totalmente inadequada do policial”, escreveu Doria, em seu perfil pessoal no Twitter, contrariando o documento da Polícia Civil no qual a mulher responderá por resistência, enquanto os outros dois homens, por tráfico de drogas.
Após a Ponte publicar reportagem denunciando a acusação falsa feita por Doria, o governador fez uma nova publicação para corrigir a informação anterior. “Faço uma correção aqui: a mulher que aparece em vídeo hoje não é acusada de tráfico de drogas, ele estava envolvida em uma ocorrência de tráfico de drogas e resistiu à prisão. O inquérito policial segue”, escreveu. Ao contrário do que o governador afirma em sua correção, contudo, não há qualquer indício de envolvimento da mulher na “ocorrência de tráfico de drogas”.
O soldado Viana afirmou que “não havia motivo algum” para a grávida o agredir, que ela se alterou e “passou a xingar e o agrediu com um soco”. O documento ainda detalha que o policial não mostrou nenhum ferimento no peito consequente da agressão que teria sofrido.
VÍDEO:
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