Áudios foram gravados enquanto ele passava mal após tomar suco de uva na escola. Nas mensagens, professor indica quem o teria envenenado. Esposa relata desespero
“Minha amiga, eu tô te mandando a mensagem porque tu demora a atender. Aí eu fico agoniado. Eu cheguei aqui, a mulher com uma cara feia da p* para mim. Os quadros que eu tinha deixado já tavam tudo empilhado para eu carregar. Minha folha de ponto para assinar. Quase que ela não deixa eu entrar na escola.
Aí depois ela viu que eu estava de boa e tal, não sei o quê. Mas a mulher com ódio, ódio, ódio nos olhos, né? Aí eu fui, aí ela me chamou na salinha ali para assinar a filha de ponto. Aí quando eu fui ver ainda me deu uma garrafinha de suco de uva. Tomei até um susto. Uma garrafinha dessas, né… Aí eu falei: ‘Não vou tratar mal, né? Não vou ser deselegante não’. Eu fiquei meio receoso, mas aí fui e tomei.
Eu não sei…agora, já tem uns 15 minutos. Agora, tá me dando uma dor de barriga desgraçada. Será se essa p* botou algum laxante para me sacanear? Botou alguma coisa dentro dessa p* desse suco de uva. Porque não é possível a dor na barriga que eu tô.
Eu hein, tô grilado agora, agora eu tô grilado. A mulher me olha de cara feia. Aí depois que o pessoal sai todo de perto, que ela me põe ali naquela salinha, que era do Bira, para assinar a folha, e me vem com uma garrafinha de suco de uva e me dá.
Sei lá, agora eu tô com o estômago aqui f*, doendo. Não sei que p* é essa. Tô com medo vou até ligar para a minha mulher. Mas vamos esperar, não deve ser nada não, deve ser dos meus remédios. Vai dar tudo certo. Ai, não é possível que ela tenha a coragem. Ah meu pai do céu.”
O texto acima é uma transcrição de um dos áudios enviados no último dia 30 de janeiro pelo professor Odailton Charles Albuquerque Silva.
As mensagens foram gravadas pelo homem de 50 anos enquanto ele passava mal no Centro de Ensino Fundamental 410 da Asa Norte, escola onde trabalhava em Brasília.
O professor morreu na terça-feira (4/2), após cinco dias internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Ele sentiu-se mal na escola, após tomar um suco de uva que teria sido oferecido por uma colega de trabalho.
A família registrou uma ocorrência por homicídio e acredita que ele foi envenenado. Até o ano passado, Odailton era o diretor da escola pública, mas saiu do cargo após perder uma eleição.
Depois de passar mal, o professor foi socorrido e levado pelo Corpo de Bombeiros ao Hran. Segundo a ocorrência, a mulher de Odailton disse que, ao chegar no hospital, o marido estava em uma maca tremendo muito e inconsciente. O quadro do professor se agravou até a morte na terça.
Na tarde desta quinta-feira (6), peritos do Instituto de Medicina Legal (IML) e do Instituto de Criminalística (IC) confirmaram que o professor foi assassinado com raticida.
Um exame feito preliminarmente no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) já tinha constatado a presença de um organofosforado, substância presente em inseticidas, agrotóxicos e em veneno de rato, o chumbinho.
Desespero
A companheira de Odailton relatou que, ao chegar ao Hospital, encontrou seu marido deitado no corredor da emergência “inconsciente, tremendo, babando sem parar e se contorcendo a todo momento”.
A mulher, então, se desesperou ao observar o estado de saúde do professor e passou a pedir a presença de um médico. Naquele momento, um dos profissionais levantou a hipótese de envenenamento e o encaminhou para atendimento. Odailton passou por exames médicos no hospital.
Apesar dos esforços, o educador não resistiu. Ainda na terça, pouco depois de receberem a notícia, estudantes e colegas de profissão do CEF 410 Norte estenderam faixas na frente da unidade educacional lamentando a morte do professor.
Outros áudios
Durante a crise, Odailton enviou outros áudios angustiantes a familiares e colegas, pedindo socorro e detalhando seu estado de saúde. “Alguém me ajuda, alguém me ajuda. Eu cheguei aqui, tomei um suco e acho que colocaram laxante, estou com muita diarreia”, disse o educador.
À medida que os áudios eram enviados, a situação piorava, o que ficou perceptível devido ao tom de voz e à dificuldade de respiração do professor.
Em nota enviada à imprensa, a Polícia Civil (PCDF) assegurou que o episódio “está sendo investigado com a máxima prioridade”. O caso foi tipificado como homicídio.
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