Bolsonaristas fazem carreata pela volta do povo às ruas: #BolsonaroTemRazão
Vídeo de uma das carreatas foi compartilhado pelo próprio Jair Bolsonaro; outros atos estão agendados. Além disso, governo já criou e começou a disseminar peça publicitária pedindo o fim do isolamento: "O Brasil não pode parar". Profissionais da saúde alertam: as consequências podem ser muito graves
Uma peça publicitária que estimula as pessoas a retornarem às suas atividades cotidianas está sendo distribuída nas redes bolsonaristas. “O Brasil não pode parar”, encerra cada trecho do vídeo, inclusive para os “brasileiros contaminados pelo coronavírus”.
O senador Flávio Bolsonaro foi o responsável por dar o chute inicial desta etapa da campanha #BrasilNaoPodeParar, em postagem no Facebook na noite de quinta (26). O filho presidencial é o pivô das investigações criminais acerca de relações entre milícias e a família Bolsonaro, além de um esquema de “rachadinha” em seu então gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
A página da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), cujo chefe, Fabio Wajngarten, foi contaminado pelo patógeno, divulgou na quarta (25) a hashtag da campanha.
Além disso, o próprio presidente postou em sua conta em rede social o vídeo de uma carreata realizada em Camburiú (SC) contrária ao isolamento social recomendado pela maioria dos governos que lidam com a pandemia e pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Outras carreatas estão agendadas em cidades como Curitiba (PR) e alguns municípios do sul do país. A ironia é que são carreatas, supostamente formas mais seguras de protestar em tempos de coronavírus. Muitas convocações estão sendo feitas para a segunda (30), véspera do aniversário de 56 anos do golpe militar de 1964, objeto de adoração de Bolsonaro.
A ofensiva mostra que Bolsonaro colocou todas suas fichas na hipótese de que a pandemia, que já matou 77 brasileiros e infectou milhares, terá impacto reduzido sobre a saúde pública.
Desde a emergência da questão sanitária, Bolsonaro tem sistematicamente negado a gravidade da infecção pelo vírus que causa a Covid-19. Em oposição a ele, os governadores de estado se uniram em uma frente pedindo recursos federais e medidas para aliviar o impacto econômico da crise.
O fato é que os governadores se alinharam às recomendações da OMS e contam com o apoio de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Câmara que tem agido como chefe do Legislativo na crise.
Desde então, Maia concedeu duas entrevistas em que criticou o governo e cobrou ação imediata de Bolsonaro para o envio de medidas emergenciais ao Congresso — sob pena de os parlamentares tomarem as mesmas.
Crime contra a humanidade
Médicos e especialistas alertam que as atitudes e discursos do presidente Bolsonaro, no sentido de estimular o povo a voltar às ruas, pode ter consequências gravíssimas. E os exemplos caóticos estão vindo de todas as partes do mundo — inclusive dos Estados Unidos, país idolatrado pelo mandatário brasileiro.
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Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo disse que o isolamento social é recomendado para todas as pessoas.
“O distanciamento social, como nós chamamos, é para todas as pessoas. Com menos interação, diminuímos a taxa e a velocidade da transmissão”, afirmou.
O superintendente médico do Hospital Santa Paula, Otavio Gebara, diz que o isolamento precisa ser feito em duas etapas.
“Primeiro, se faz um período de isolamento total da população, que dure de 15 a 30 dias no mínimo. Após esse período, em que quem se contaminou não transmite mais a doença e se corta a subida quase vertical da curva de infectados, pode-se manter o isolamento para os grupos de risco”.
O médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e assessor da diretoria da SBI, Leonardo Weissmann, explica que todas as pessoas estão suscetíveis a se infectar.
“Idosos e pessoas com baixa imunidade são consideradas de grupos de risco para desenvolver formas mais graves da doença, mas qualquer pessoa está suscetível a ter a infecção com o novo coronavírus.”
O vice-presidente da SBI explica que a doença avançou rapidamente na Itália por que as medidas de quarentena e isolamento não foram tomadas no início da epidemia.
“A Itália tem uma situação diferente: ela começou a quarentena quando estavam no pico da transmissão. Quando ela implementou a medida, foi tardiamente. A mortalidade não tem a ver com a medida. É o contrário, as medidas foram implementadas quando a mortalidade já estava alta”, explicou Chebabo.
“O que estamos tentando fazer é que o pico não seja tão alto. Se ele acontecer muito rápido, o nosso sistema de saúde não comporta internação e tratamento de todos os doentes”, diz Gebara.]
Propaganda do governo Bolsonaro “O Brasil não pode parar”: