Saúde

Bolsonaro volta a minimizar coronavírus: “governadores exageraram nas medidas”

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Mesmo após o avanço da pandemia no Brasil e das primeiras mortes confirmadas, presidente Jair Bolsonaro volta a minimizar o coronavírus nesta sexta-feira e afirma que "governadores exageraram nas medidas" para combater a doença

Jair Bolsonaro, em seu encontro com eleitores e imprensa na saída do Palácio da Alvorada, criticou a atuação dos governos estaduais em relação às medidas adotadas contra a disseminação do coronavírus.

‘Tão tomando medidas, no meu entender, exageradas’, afirmou o presidente. E dirigiu suas críticas especialmente ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), seu rival político.

Indiretamente, Bolsonaro falou que ‘não compete a ele (Witzel) fechar aeroporto’. Disse também que ficou preocupado ao ver o decreto emitido pelo governador: ‘Parece que o Rio é outro país’.

O presidente insistiu na ideia de exagero por parte das medidas de controle perante a pandemia, e ainda falou que precisa passar ‘tranquilidade’ ao povo. ‘Se vocês acompanharem o que ocorre com o povo mais pobre, daqui a pouco teremos problema de saque’, prosseguiu.

Não obstante, Bolsonaro afirmou que os comércios não devem ser parados, pois isso acarretaria numa má nutrição das pessoas, porque elas ficariam sem comer, ‘e elas aí estão mais propensas a pegar o vírus’. E continuou: ‘Muitas mortes serão de pessoas sem comida!’.

Num tom mais calmo, religiosamente pontuou ‘tenho fé em Deus que vêm uma vacina’, aplaudido pelos poucos eleitores presentes no momento.

Essa não é a primeira vez que Jair Bolsonaro trata do coronavírus com descaso. O presidente já classificou a pandemia de “histeria” e de “fantasia”, além de ter convocado e participado de manifestações populares durante o surto. Já são 22 os membros de sua comitiva infectados com o covid-19.

Despreparo

No início da semana, jornais internacionais destacaram o despreparo do mandatário brasileiro para guiar o Brasil contra a pandemia do coronavírus.

Em uma reportagem em inglês sobre a situação da pandemia na América Latina, o canal de televisão France 24 relata como o líder brasileiro fez selfies com milhares de manifestantes. “Bolsonaro parece ignorar o conselho de médicos especialistas, que sugeriram que ele permanecesse isolado, depois que vários membros de sua delegação durante viagem na Flórida testaram positivo para o vírus”, aponta a emissora.

Huffington Post em francês também dá destaque para o episódio e diz que “Bolsonaro foi quase tão longe quanto Trump ao não respeitar nenhuma instrução”. “Visivelmente, ele não teme o coronavírus”, insiste o texto, lembrando o número de mortos vítimas da pandemia no mundo.

A aparição pública de Bolsonaro também foi tema de matéria na revista Courrier International, que traduz uma reportagem do jornal El Pais. “Apesar de suas próprias declarações e dos apelos do ministro da Saúde para interromper as manifestações, Bolsonaro, sem aviso prévio, deixou o palácio presidencial com um sorriso, mostrando que está mais preocupado com sua imagem do que com a pandemia. O presidente de extrema-direita disse repetidamente que o apoio das multidões não tem preço”, escreve a revista.

No entanto, quem trouxe mais detalhes foi o jornal Le Monde. O correspondente do vespertino no Brasil diz que, ao se expor, “com um sorriso no rosto em sem máscara”, em 58 minutos Bolsonaro esteve em contato com pelo menos 272 pessoas.

Para o vespertino, a postura do chefe de Estado “ilustra o despreparo do país”. “O líder da extrema-direita não fez nenhuma recomendação de higiene e nenhuma medida importante foi tomada contra o vírus”, denuncia o texto, lembrando que as fronteiras continuam abertas e que não há confinamento da população no Brasil, como acontece em vários países.