Saúde

Coronavírus: dinheiro gasto por Bolsonaro em publicidade daria para comprar 70 respiradores

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Dinheiro gasto pelo governo Bolsonaro em campanha publicitária para deslegitimar a importância do combate ao coronavírus daria para comprar 70 respiradores. Peça prega que o "O Brasil não pode parar", a exemplo de campanha italiana realizada há 1 mês

Debora Álvares, HuffPost

Em meio à pandemia de coronavírus, o governo federal contratou sem licitação, ao custo de R$ 4,8 milhões, uma empresa para elaborar uma campanha publicitária com o mote #OBrasilNãoPodeParar.

A ideia é defender a flexibilização do isolamento social, mantendo apenas idosos e pessoas com doenças pré-existentes em casa, conforme defendeu o presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão esta semana.

O valor gasto pelo governo para a campanha daria para comprar cerca de 70 respiradores — cada respirador custa, em média, R$ 70 mil. Segundo levantamento do UOL, cerca de 60% dos municípios brasileiros — nos quais vivem 33,3 milhões de pessoas — não têm nenhum respirador disponível em suas unidades de saúde.

O contrato feito destina-se para a elaboração da campanha chamando o brasileiro a sair do isolamento. O extrato do contrato foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União desta quinta-feira (25).

Segundo o site Poder 360, a agência contratada, a iComunicação, foi aberta em 2002, tem um capital estimado de R$ 250 mil, e ocupa seis salas em um prédio no Setor de Autarquias Sul, em Brasília.

A contratação foi assinada pela secretária de Gestão e Controle, Maria Lúcia Valadares, e pelo secretário de Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngarten, que nem sequer retornou completamente ao trabalho, afastado após o diagnóstico de coronavírus. O extrato do contrato foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União desta quinta-feira (25).

Também de acordo com o Poder 360, o chefe de Wajngarten, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) assinou uma portaria na segunda autorizando o subordinado a “celebrar contratação emergencial de serviço de planejamento, desenvolvimento e execução de soluções de comunicação digital”.

Na noite de quinta, Flávio Bolsonaro divulgou um vídeo no Facebook que dá o tom da campanha que vem por aí. “Para trabalhadores autônomos, o Brasil não pode parar. Para ambulantes, engenheiros, feirantes, arquitetos, pedreiros, advogados, professores particulares e prestadores de serviço em geral, o Brasil não pode parar”, diz a narração. Ao fim, é exibida a marca do governo federal.

O vídeo, que circula fortemente nas redes sociais bolsonaristas, repercutiu mal fora da bolha de apoio ao presidente. Um outro vídeo com o mesmo áudio, mas com imagens diferentes, passou a ser divulgado para criticar a campanha do governo:

Governo voltou atrás?

Após a má repercussão da publicidade, o governo voltou atrás. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência chamou a informação sobre a propaganda em questão de “equivocada”. “Cabe destacar, para não restar dúvidas, que não há qualquer campanha do Governo Federal com a mensagem do vídeo sendo veiculada por enquanto, e, portanto, não houve qualquer gasto ou custo neste sentido”.

“Trata-se de vídeo produzido em caráter experimental, portanto, a custo zero e sem avaliação e aprovação da Secom. A peça seria proposta inicial para possível uso nas redes sociais, que teria que passar pelo crivo do Governo. Não chegou a ser aprovada e tampouco veiculada em qualquer canal oficial do Governo Federal”, disse a Secom.

A publicidade:

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