Redação Pragmatismo
Saúde 30/Mar/2020 às 10:35 COMENTÁRIOS
Saúde

Governador do Acre desiste de seguir Bolsonaro após ouvir frase apavorante de Mandetta

Publicado em 30 Mar, 2020 às 10h35

Pressionado, governador do Acre iria seguir recomendação do presidente Jair Bolsonaro e "abrir tudo", mas desistiu após telefonema com o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta: “Chame os donos das funerárias e mande eles se prepararem”

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Imagem: Guilherme Mazui)

O Brasil vive hoje um dilema inglório no combate ao coronavírus. De um lado, governadores, prefeitos, cientistas, profissionais da saúde e autoridades sanitárias. Do outro, Jair Bolsonaro, seus filhos, Olavo de Carvalho e o chamado “rebanho”, cada vez mais reduzido a figuras extremas e autoritárias.

A princípio, todos os governadores do Brasil seguiram as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das principais pesquisas internacionais e adotaram medidas de isolamento para conter a propagação do coronavírus.

No entanto, o que se vê agora em algumas localidades é o afrouxamento dessas medidas por conta da pressão do presidente Jair Bolsonaro para priorizar a economia em detrimento à saúde.

Em Santa Catarina, o governador Comandante Moisés (PSL), aliado de Jair Bolsonaro, foi o primeiro a anunciar a retomada das atividades econômicas e serviços no estado, colocando fim ao isolamento social. A medida incluía a reabertura de academias, shoppings, bares e hotéis. Houve carreatas no estado que o pressionaram para essa direção.

Em um comunicado de última hora, o governador desistiu de encerrar a quarentena no estado e sinalizou que prorrogará as medidas de isolamento social, “para que o sistema de saúde esteja preparado para combater os efeitos do coronavírus em Santa Catarina”.

Em vídeo divulgado em seu perfil no Twitter, o governador afirma que “nada vale mais que uma vida humana”. Também diz que “a economia sofrerá”, mas “isso vai acontecer no mundo inteiro”.

No Acre, o governador Gladson Cameli (PP) passou as últimas noites refletindo sobre o que fazer. Em reunião com sua equipe, disse que a decisão prioritária é a de salvar vidas, mas se viu entrelaçado pela campanha de politização do coronavírus adotada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Um áudio divulgado pela TV Aldeia, sediada em Rio Branco (AC), revela que a decisão final do governador só aconteceu após uma conversa telefônica inquietante com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM).

“O que é que se vê? Uma politização. As pessoas querendo que o povo vá pra rua, inclusive o nosso presidente. Na sexta-feira, eu peguei o telefone e pedi uma audiência com ele. Eu ia sair de Rio Branco, chegar e dizer: ‘Então, presidente, eu vou seguir a sua orientação. Se é para abrir, então vamos abrir, mas está aqui: eu não tenho condições de arcar com as consequências’. Aí eu liguei para o ministro da Saúde. Ele disse: “não faça isso”. Eu ia, pois estou seguindo uma lógica. E eu quero compartilhar com vocês: se fizeram uma opção pela parte econômica, eu fiz opção por salvar vidas. Se eu estou certo ou estou errado, o tempo vai dizer. O que eu não quero é a consciência de que eu não fiz o meu papel, o meu dever”

O governador disse que Mandetta o orientou a chamar os donos das funerárias para dizer que se preparem. “Se o ministro me disse isso, eu vou fazer o quê? Eu vou dizer que o negócio é simples? Eu vou ser irresponsável? Não vou. Ele não é doido.”

A reunião aconteceu a portas fechadas, mas alguém gravou e vazou o áudio:

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