Paciente grave com doença rara sofre com falta de medicamento esgotado por conta de suposto efeito para coronavírus; nas redes sociais, ele publicou um apelo. Brasileiros foram às farmácias e compraram tudo após Donald Trump afirmar que remédio cura covid-19
Moacir Jr., de 39 anos, está desesperado após a escassez de um remédio chamado sulfato de hidroxicloroquina. O medicamento desapareceu das farmácias brasileiras após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, garantir que ele é eficaz no combate ao coronavírus.
Morador de Niterói (RJ), Moacir sofre de uma doença autoimune rara, conhecida como síndrome de sjögren. Ele precisa do remédio para controlar a enfermidade. Até esse mês, p homem nunca havia tido dificuldades de encontrar o medicamento, que custa cerca de R$110.
“Fui a pelo menos umas 15 farmácias diferentes e não achei”, diz ele, que fez um post no Instagram pedindo que alguém vendesse uma caixa a ele, que não pode ficar sem o tratamento.
“Minhas articulações inflamam, pulsos, tornozelos, joelhos incham e ficam doendo demais. Eu não consigo sair da cama, meus olhos ficam secos, não fazem lágrimas e minha boca fica sem saliva”, conta ele sobre o que acontece quando fica sem o medicamento. Ele precisa de uma nova caixa a casa 30 dias.
Apesar das declarações de Donald Trumo, a hidroxicloroquina foi testada apenas em um grupo pequeno. A droga se mostrou eficaz na redução da quantidade de vírus nas secreções respiratórias. Mas os autores não avaliaram o impacto na letalidade ou na gravidade da doença.
Leia o apelo de Moacir:
“Queria pedir pras pessoas terem consciência de que se elas não tiveram prescrições que não comprem. Existem pessoas com doenças autoimunes que precisam muito dos medicamentos para poder ter uma vida mais tranquila. O medicamento causa transtorno, pode até resultar em cegueira. Tenho sempre que fazer exames por usá-lo, então ele também pode ser perigoso”
Além de Moacir
Diversos portadores de doenças autoimunes e de artrite, que tomam o medicamento de forma contínua, estão sofrendo com escassez repentina.
“Desde ontem, já percorri quase todas as farmácia daqui [Nova Iguaçu], do Rio, liguei para várias, tentei comprar pela internet, mas também não consegui”, conta Marcelle Fassini, de 35 anos.
Ela toma a medicação há 10 anos para o tratamento da lúpus. “Tentei manipular, mas também não consegui, uns lugares não têm e os que têm estão cobrando o dobro do que pago na farmácia. Já não sei mais onde procurar.”
De Porto Alegre, a pedagoga Lisiane Clipes, de 36 anos, viu a notícia sobre a fala do presidente americano Donaldo Trump e resolveu ligar para a farmácia para pedir mais uma caixa do medicamento.
“Tenho pouco e imaginei que logo iria faltar, mas não havia mais em nenhuma”, relatou. “Entrei em contato com meus familiares que também começaram a ligar e nada ” Portadora de lúpus, ela acabou pedindo à médica para liberá-la para manipular o remédio.
Segundo José Roberto Provenza, presidente da SociedadeBrasileira de Reumatologia, o uso medicamento só pode ocorrer por indicação médica. “Geralmente, não se prescreve para quem tem doenças cardiovasculares, hepáticas, oftalmológicas e gastrointestinais”, disse.