Jovem de 19 anos teve 60% do corpo queimado por namorado e não resistiu aos ferimentos. Alguns dias depois, homem ateou fogo em companheira durante festa de casamento; ela teve 86% do corpo queimado e também morreu
Entre o final de fevereiro e o início de março, foram registrados no Brasil dois casos que retratam não somente o aumento desenfreado do feminicídio no Brasil, mas mostram como o requinte de crueldade tem se tornado característica nos assassinatos de mulheres.
Luana Aparecida de Oliveira, de 19 anos, morreu na tarde do dia 27 de fevereiro de 2020 após ter 60% do corpo queimado dentro de casa, em Bragança Paulista (SP).
Segundo a Polícia Civil, o único suspeito de cometer o crime é o namorado da vítima, que está foragido. Ele não teve o nome divulgado pelas autoridades.
De acordo com a Polícia Militar, vizinhos acionaram o 190 após terem ouvido pedidos de socorro vindos da casa da vítima. Ao chegarem no local, a jovem já havia sido socorrida por uma equipe do Samu, que a encaminhou para um hospital da região.
No hospital, a jovem recebeu os primeiros atendimentos e foi entubada. Os médicos, então, constataram que a vítima havia sofrido queimaduras na região da cabeça, das costas e do tórax.
Luana, segundo o relatado por testemunhas, estaria morando no local há cerca de 15 dias, com o namorado, que não foi localizado. As brigas eram constantes. “Dava para perceber que eles brigavam muito, era muita gritaria e xingamentos”, disse uma testemunha.
Em seu perfil no Facebook, Luana parecia ser uma garota bem discreta. Com poucas postagens e fotos abertas ao público e nenhuma menção a um namorado. A última postagem pública tem uma frase com os dizeres: “Me faz feliz”.
O caso foi registrado como feminicídio na Delegacia de Defesa da Mulher de Bragança Paulista. A equipe de investigação tenta localizar o namorado da jovem, que despareceu após o crime.
Atacada com gasolina
Em Indaiatuba (SP), a apenas 96km de Bragança Paulista (SP), onde Luana perdeu a vida, uma outra mulher morreu após também ser incendiada pelo companheiro. O crime ocorreu no domingo (01/03).
Em uma chácara onde acontecia uma festa de casamento, Ioneto de Moura Silva, de 49 anos, ateou fogo na companheira dele, Shirley Maria Pereira, de 57 anos. Ela teve 86% do corpo queimado e não resistiu aos ferimentos.
Quem estava casando era o jardineiro Vinícius Santos Miguel, de 29 anos, amigo do casal. Ele contou à polícia que vários convidados viram Shirley pegando fogo e correram para socorrê-la.
“Ela foi chamar ele [Ioneto] para entrar. Ele estava transtornado e falando que não ia entrar. Falou que ia atear fogo no trator e discutiu comigo”, afirmou.
“Eu virei as costas e fui embora para evitar confusão. Voltei para o sítio e, quando entrei, estava conversando com o pessoal e vimos uma fumaça preta subindo lá de baixo. Quando olhei, ela estava rolando no chão pegando fogo”, disse.
Ioneto usou gasolina para incendiar Shirley. Ele está preso e responderá por feminicídio.
Um feminicídio a cada 7 horas
O Brasil teve um aumento de 7,3% nos casos de feminicídio em 2019 em comparação com 2018, segundo levantamento feito com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. São 1.314 mulheres mortas pelo fato de serem mulheres – uma a cada 7 horas, em média.
Desde 9 de março de 2015, a legislação prevê penalidades mais graves para homicídios que se encaixam na definição de feminicídio – ou seja, que envolvam “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Os casos mais comuns desses assassinatos ocorrem por motivos como a separação.
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