Itália tem 627 mortes em um único dia, maior número desde o início da pandemia
Nunca um país registrou 627 mortes por coronavírus em um único dia desde o início da pandemia. Com isso, o número de vítimas fatais na Itália ultrapassa os 4 mil. Imagem de caminhões do exército recolhendo corpos é o retrato da tragédia
A Itália registrou nesta sexta-feira (20) mais 627 mortes pelo novo coronavírus — a maior alta diária desde o início da pandemia. Com isso, o número de vítimas de Covid-19 no país chegou a 4.032.
Na quinta-feira, as mortes pela doença na Itália ultrapassaram o total de vítimas na China pela primeira vez. O país asiático, primeiro epicentro da pandemia de Covid-19, passou a registrar números mais baixos de contágio nos últimos dias.
O número de casos do novo coronavírus na Itália aumentou de 41.035 para 47.021 em apenas um dia, o que representa aumento de 14,6%. A situação é mais crítica na Lombardia, no norte italiano, onde foram registradas 2.549 mortes e 22.264 casos.
Na última quinta-feira (19) o mundo se chocou com as imagens de caminhões do exército recolhendo corpos na Itália, já que os serviços funerários estão longe de suportar o elevado número de mortos. Os registros servem como mais um alerta para a gravidade do coronavírus.
Nas imagens, uma longa fila de caminhões militares transporta corpos do distrito de Bergamo para outras localidades que se dispuseram a cremá-los. Uma das regiões mais afetadas, a província não tem mais capacidade em seus necrotérios para cuidar dos mortos pela pandemia.
A exemplo de outras ao longo da história, a cena tem o poder de resumir em si a tragédia, de condensar em um fotograma toda a carga da realidade. “Essa imagem pesa mais do que dez caminhões do Exército”, escreveu um italiano no Twitter. “É uma das fotos mais tristes da história do nosso país. Sairemos dessa e faremos isso também por eles. Todos juntos”, postou outro.
Nem sempre é verdade que uma imagem vale mais do que mil palavras, porém algumas conseguem “dar significado ao mundo”, como definiu o mestre da fotografia Henri Cartier-Bresson sobre a potência da cena enquadrada no visor. Ao transpor a condição de mero registro, essas imagens provocam mudanças.
— A foto de Nick Ut da menina nua queimada por napalm chocou o mundo em 1972 e ajudou a acelerar o fim da Guerra do Vietnã.
— O menino raquítico observado de perto por um abutre captado em 1993 por Kevin Carter chamou a atenção como nenhuma campanha havia feito sobre o horror da fome na África.
— Mais recentemente, em 2015, a cena do menino sírio morto numa praia revelou a crueldade da crise migratória e instigou uma guinada nas políticas dos países europeus para abrigar refugiados.
Algo similar acontece no mundo agora. A humanidade passa por um instante decisivo com o coronavírus. E ciência, política e solidariedade devem trabalhar para impedir que imagens chocantes como a dos caminhões com corpos na Itália tornem-se banais. A esperança é que a cena transforme-se no símbolo de uma mudança de atitude, de uma chamada à ação de todos para combater a pandemia, não apenas no emblema de uma tragédia.
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