Jovem alemã se apresenta como a ‘anti-Greta’ em conferência internacional
Como Greta Thunberg, Naomi Seibt é jovem, branca, eloquente e europeia, mas as semelhanças terminam aí. Ativista ganhou destaque por duvidar que a culpa do aquecimento global seja do homem. Ela também critica o feminismo e nega que haja menos mulheres na política. Donald Trump e Eduardo Bolsonaro participaram de evento com ela
A alemã Naomi Seibt, de 19 anos, chamou atenção na sexta-feira (28) ao participar da reunião anual da CPAC (Conferência de Ação e Política Conservadora).
O evento reúne conservadores de vários países do mundo para debater os rumos da política de uma perspectiva de direita. Nascida em Munster, ela foi convidada a participar do evento por ser considerada uma “anti-Greta Thunberg”.
A CPAC foi realizada na última semana, de quarta a sexta-feira, em Washington D.C, nos Estados Unidos. Estiveram presentes no encontro o presidente dos EUA, Donald Trump, e o secretário de Estado da Casa Branca, Mike Pompeo. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, foi um dos convidados e aproveitou a oportunidade para defender a política de liberação de armas.
Em seu discurso, Naomi, que se vê como uma “realista climática“, declarou duvidar do protagonismo do homem na contribuição para o aquecimento global.
“Fui doutrinada na escola para ser uma alarmista climática, mas fui inspirada por pessoas que encontrei online e cientistas a pensar mais. A propaganda sobre mudança climática é associada a políticas que querem nos impor. Eles nos levarão à pobreza energética, que é uma maneira de nos controlarem”, disse.
“O objetivo [dos cientistas] é envergonhar a humanidade. O alarmismo das mudanças climáticas é, em sua essência, uma ideologia desprezível, anti-humana, e somos instruídos a menosprezar nossas realizações com culpa, vergonha e nojo, e nem mesmo levar em conta os muitos benefícios importantes que obtivemos com o uso de combustíveis fósseis”, acrescentou a ativista.
Naomi mantém um canal no Youtube e o abastece com vídeos em alemão e em inglês. Na plataforma, ela expões suas percepções a respeito de questões sobre o clima e o meio ambiente.
Perguntada por jornalistas sobre os discursos anti-semitas feitos em seu canal, respondeu: “acho ridículo como a mídia sempre escolhe as coisas que eu digo”.
Em uma das gravações no Youtube, Naomi refere-se ao ativista canadense Stefan Molyneux como uma “inspiração”. Molyneux foi apontado pela Southern Poverty Law Center, órgão norte-americano voltado aos direitos civis, como 1 suposto líder de cultos racistas e de supremacia branca.
A alemã publica vídeos no YouTube desde maio de 2019. Além de visões sobre o clima, expõe pensamentos sobre costumes, feminismo e políticas de imigração. Na primeira gravação para o canal, Naomi nega que haja menos mulheres na política.
Extrema-direita e Heartland
“Eu sou libertária. Geralmente não quero me alinhar com nenhum partido”, disse Naomi Seibt, sem negar, no entanto, seu relacionamento próximo com membros do Alternative für Deutschland (AfD), partido de extrema direita alemão que milita contra a imigração, o Islã e a União Europeia.
Naomi Seibt se juntou ao Heartland, um influente think tank conservador sediado nos Estados Unidos, que apóia o capitalismo e o ‘livre mercado’.
Com um “salário modesto”, como ela diz, Seibt trabalha desde dezembro para a Heartland, organização acusada de lançar uma campanha para combater os esforços da Alemanha para regular as emissões de dióxido de carbono no mundo.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Connor Gibson, pesquisador do Greenpeace nos Estados Unidos, acusou a Heartland de “canalizar dinheiro anônimo dos EUA (para promover) a negação climática em outros países”.
“Ela conta com a mídia para promover estratégias de equivalências falsas para tentar normalizar crenças radicais. A negação do clima não é um crime sem vítimas, e é hora de os responsáveis serem apontados”, diz ele.
De acordo com o site britânico Desmog, dedicado a denunciar o que considera campanhas de desinformação sobre mudanças climáticas, a Heartland é “um dos grupos mais notórios que negam a ciência das mudanças climáticas nos Estados Unidos e recebeu fundos da ExxonMobil e de grandes fundações conservadoras”.
O jornal americano The Washington Post relata que, durante a Conferência de Madri sobre Mudanças Climáticas, realizada em dezembro, dois funcionários do CORRECTIV, um grupo de mídia alemão sem fins lucrativos, entraram em contato com James Taylor, diretor do Centro Arthur B. Robinson para Política Climática e Ambiental da Heartland, e se passaram por doadores da indústria automotiva.
Os jornalistas disfarçados ofereceram a Taylor meio milhão de euros, que ele aceitou imediatamente, apresentando um plano elaborado para combater o desejo das autoridades alemãs de limitar a mudança climática.
Donald Trump
Fundada em 1984 e financiada principalmente por doadores anônimos, a Heartland, organização que agora ajuda a espalhar a mensagem “anti-Greta”, mantém laços estreitos com membros do governo Trump.
Segundo documentos obtidos pela imprensa dos EUA, William Happer, que atuou como diretor do Conselho de Segurança da Casa Branca de 2018 a 2019, teria solicitado a ajuda da Heartland para promover suas ideias de que as emissões de CO2 deveriam ser consideradas benéficas para a sociedade.
“Acreditamos que o governo Trump em geral está fazendo um trabalho muito bom em relação às políticas energética, ambiental e climática”, disse James Taylor, da Heartland.
“Temos o prazer de fornecer informações e assessoramento a quem deseje recebê-los”, acrescenta ele sobre os membros do governo dos EUA e confirma ter contato com “alguns” deles.
Greta
Em relação à sua “rival” Greta Thunberg, Naomi diz que não tem nenhum problema com ela ou com a narrativa geral da luta contra as mudanças climáticas.
Naomi afirma que ser chamada de “anti-Greta”, diz que isso serve para torná-la conhecida e transmitir sua voz ao mundo.
Enquanto Greta Thunberg tem 4 milhões de seguidores no Twitter, Naomi Seibt (que abriu sua conta em fevereiro de 2020) tem 18.500.